Esta reportagem foi publicada originalmente em 30 de dezembro de 2022 e atualizada em 31 de dezembro de 2022, com o falecimento do papa emérito Bento XVI
A Igreja Católica tem protocolos rígidos a seguir após a morte de seu líder. Mas, no caso de Bento XVI, que morreu neste sábado (31/12), não está claro se esses mesmos protocolos se aplicariam a um papa aposentado, conhecido como emérito. O Vaticano informou que seu velório ocorrerá em 5 de janeiro e será presidido pelo papa Francisco. A partir de 2 de janeiro, o corpo do pontífice emérito ficará na Basílica de São Pedro para a visita de fiéis.
Quando renunciou em 2013 alegando idade avançada, Bento XVI se tornou o primeiro pontífice a renunciar ao cargo em 600 anos.
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Nem mesmo a Idade Média oferece um modelo a seguir, porque quando Gregório 12 renunciou em 1415, seu objetivo era dar um fim a anos de divisão envolvendo adversários rivais ao papado.
A pessoa que comanda o Vaticano entre a morte de um pontífice e a eleição do seu sucessor é chamada de "camerlengo" — atualmente, é o cardeal Kevin Farrell. Mas como Bento já não era mais papa, algumas das tarefas do cardeal podem não ser mais apropriadas.
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Normalmente, o camerlengo tem o papel de confirmar oficialmente a morte do papa — pela tradição, ele deve bater três vezes com um pequeno martelo de prata na testa do pontífice e chamar seu nome.
Ele também supervisionaria a destruição do Anel do Pescador do papa, selaria os aposentos papais, organizaria o funeral e prepararia um conclave para eleger seu sucessor.
Como Francisco já é papa, há uma incerteza considerável a respeito de o que o camerlengo vai fazer.Regras do funeral
Um funeral papal é normalmente presidido pelo Decano do Colégio dos Cardeais, atualmente o cardeal Giovanni Battista Re. Mas, neste caso, o Vaticano já informou que esse papel caberá ao papa Francisco. A cerimônia geralmente acontece na Basílica de São Pedro ou na praça em frente a ela. O papa é então enterrado na gruta sob a basílica.
Cada papa pode especificar seus próprios arranjos para o funeral — e, embora a família de Bento XVI esteja enterrada na Alemanha, seu biógrafo, Peter Seewald, disse que ele queria ser enterrado na tumba que pertenceu a seu predecessor, João Paulo 2º, antes de ser canonizado e transferido para outro lugar no Vaticano.
O ritual mais significativo após a morte de um papa — a eleição de um sucessor — não acontecerá.
Mas os protocolos exatos que o Vaticano vai seguir não estão claros.
O escritor e jornalista italiano Massimo Franco, especializado em Vaticano, disse à BBC que todos os procedimentos teriam que ser "escritos do zero" — e que, após a renúncia de Bento 16 em 2013, a Igreja Católica não especificou o que seria feito no caso de sua morte.
Ele também alertou que a eventual morte de Bento XVI poderia ter consequências imprevistas no papado, como normalizar a renúncia de um papa.
"Para alguns dentro da Igreja Católica, a renúncia de Bento representa uma circunstância única que nunca terá que se repetir", diz. "Para outros, pode representar um precedente e, portanto, pode se repetir. Mas isso continua sendo um grande ponto de interrogação, assim como tudo que envolve a morte e o funeral de Bento16."
Como Bento XVI foi anteriormente chefe de Estado da Cidade do Vaticano — uma cidade-Estado independente cercada por Roma e governada pelo papa —, é possível que haja um funeral com honras de Estado com líderes estrangeiros convidados. Mas, até o momento, inclusive isso é uma incógnita.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-64124538