A polícia do Sul da Califórnia lançou ontem uma ampla operação de busca ao homem de origem asiática suspeito de ter aberto fogo em um estúdio de dança durante a comemoração do Ano-Novo Lunar chinês, deixando 10 mortos e 10 feridos, antes de fugir. “O suspeito fugiu e estava sendo procurado”, disse o xerife do condado americano de Los Angeles, Robert Luna, durante entrevista coletiva em Monterey Park, localidade próxima a Los Angeles onde ocorreu o massacre. Ele advertiu que a descrição do suposto agressor é preliminar, e não deu detalhes que permitam identificá-lo.
Segundo testemunhas, o homem abriu fogo indiscriminadamente, com uma arma semiautomática. Forças de ordem receberam as primeiras chamadas de emergência às 22h20 locais de ontem e encontraram pessoas fugindo do local. Dez pessoas morreram no estúdio, cinco mulheres e cinco homens. Segundo Luna, o estado de saúde dos feridos varia de estável a crítico. O xerife também descreveu um segundo incidente, na localidade vizinha de Alhambra, cerca de 20 minutos depois, no qual um homem asiático armado entrou em um salão de baile, mas foi derrubado e desarmado, fugindo em seguida. Segundo Luna, estava sendo investigado se os incidentes estavam relacionados.
Com cerca de 61.000 habitantes de origem asiática, Monterey Park fica em torno de 13 km a leste do centro de Los Angeles. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tuitou que ele e a mulher, Jill, estavam “rezando pelos mortos e feridos” e assinalou que acompanha a situação de perto. O tiroteio foi o mais letal nos Estados Unidos desde o massacre em Uvalde, Texas, que deixou 22 mortos em uma escola primária em maio passado.
Wong Wei, morador da cidade, disse ao jornal “Los Angeles Times” que uma amiga sua estava no banheiro quando os tiros começaram. Ao sair, ela viu um homem com uma arma longa, que atirava à queima-roupa. Também viu o corpo de duas mulheres e de uma pessoa que identificou como dono do estúdio. O jornal informou que Seung Won Choi, dono de um restaurante de frutos do mar próximo ao local do crime, contou que três pessoas entraram correndo em seu restaurante e disseram a ele para trancar a porta. As três relataram que havia um homem com uma arma semiautomática, que era recarregada cada vez que a munição acabava, acrescentou Choi, em entrevista ao jornal.
Ainda de acordo com “Los Angeles Times”, dezenas de milhares de pessoas estavam reunidas desde cedo para as festividades de dois dias do Ano-Novo chinês. O segundo dia de celebração, que seria ontem, foi cancelado devido ao ataque. Judy Chu, primeira americana de origem chinesa eleita para o Congresso dos Estados Unidos e ex-prefeita de Monterey Park, declarou no Twitter que estava “devastada pelas vítimas, por suas famílias e pela população de sua cidade natal”.
Muito cedo
Andrew Meyer, do gabinete do xerife, informou que os detetives ainda não sabiam se o suspeito conhecia suas vítimas ou se tinha como alvo um grupo em particular. “É muito cedo para saber se se tratou de um crime de ódio.” Em 2021, mais de 7.000 crimes de ódio foram denunciados nos Estados Unidos, afetando mais de 9.000 pessoas, segundo dados do Departamento da Justiça. Deste total, dois terços estavam relacionados com raça.
A violência armada é um grande problema nos Estados Unidos, onde, segundo o site Gun Violence Archive, houve 647 ataques armados no ano passado, definidos como incidentes envolvendo quatro ou mais pessoas baleadas, ou mortas, sem incluir o atirador. Mais de 44.000 pessoas morreram no país por ferimentos a bala em 2022, e mais da metade delas, por suicídio. Os Estados Unidos têm mais armas do que pessoas: um em cada três adultos possui pelo menos uma arma, e quase um em cada dois adultos mora em uma casa com uma arma.
Luta pelo aborto 'não
acabou', afirma Biden
A luta pelo direito ao aborto “não acabou”, disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ontem, cinco décadas após uma decisão histórica da Suprema Corte garantir esse direito – medida revertida pelo mesmo tribunal em junho do ano passado. “Hoje deveria ter sido o 50º aniversário de Roe v. Wade”, tuitou o presidente democrata, referindo-se à decisão original. “Ao invés disso, os funcionários republicanos do MAGA (apoiadores do ex-presidente Donald Trump, com seu slogan Make America Great Again) estão travando uma guerra contra o direito das mulheres de tomar suas próprias decisões sobre sua saúde”.
Biden acrescentou: “Não deixei de lutar para proteger os direitos reprodutivos das mulheres e nunca pararei.” Em junho passado, a mais alta corte americana pôs fim a essa jurisprudência, considerando que o direito à interrupção voluntária da gravidez não estava protegido pela Constituição. A Suprema Corte, à qual Trump deu uma composição muito conservadora, permitiu assim que cerca de 20 estados governados por republicanos proibissem ou restringissem severamente o acesso ao aborto.
Em seus tuítes de domingo, Biden insiste que “o direito de escolha das mulheres não é negociável” e pede ao Congresso que aprove uma legislação que utilize os termos da jurisprudência “Roe v. Wade”. Mas o presidente de 80 anos não tem muita chance de sucesso: A Câmara dos Representantes acaba de passar para as mãos dos republicanos, e no Senado a maioria democrata é estreita.