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Estado de Minas MUNDO

El Salvador dobra capacidade prisional com megaprisão para 40 mil detentos

Complexo penitenciário foi construído em uma região rural e isolada do município de Tecoluca, a 74 km da capital, San Salvador


01/02/2023 22:58 - atualizado 01/02/2023 23:22

Prisão em El Salvador poderá abrigar até 40 mil detentos
Prisão em El Salvador poderá abrigar até 40 mil detentos (foto: Reprodução)

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, inaugurou nesta quarta-feira (1º) uma prisão com capacidade para 40 mil pessoas, após o país alcançar a maior taxa de encarceramento do mundo no ano passado.

O complexo foi construído em uma região rural e isolada do município de Tecoluca, a 74 km da capital, San Salvador. Um muro com dois quilômetros de extensão cerca a construção, que terá dez pavilhões com celas de concreto armado. De acordo com o governo, 600 soldados e 250 policiais vão vigiar o prédio.

O novo presídio foi divulgado em comunicado oficial na cadeia nacional de rádio e TV e propagandeado pelo ministro de Obras Públicas, Romeo Rodríguez, como "a maior prisão de toda a América". A obra deveria ter sido concluída em setembro, mas as autoridades não deram explicações sobre o atraso.

A construção mais do que dobra o número de vagas para presos no país, que atualmente conta com 20 presídios com capacidade total de 30 mil pessoas -embora mais de 97 mil salvadorenhos estejam privados de liberdade, segundo levantamento do jornal La Prensa Gráfica. O número corresponde a 2,2% da população maior de 18 anos do país.

Os números fizeram a pequena nação centro-americana de 6,5 milhões de habitantes chegar ao topo do ranking de países com maior taxa de encarceramento do mundo em março do ano passado. Os dados são da World Prison Brief, organização sediada na Universidade Birkbeck, em Londres.

No vídeo de divulgação, com ares cinematográficos, Bukele circula pela penitenciária que chama de Centro de Confinamento de Terrorismo acompanhado do vice-ministro de Justiça e diretor geral de centros penais, Osiris Luna, que apresenta o espaço.

A peça mostra o que seriam equipamentos tecnológicos de ponta para revistar quem entra na prisão, além do arsenal do prédio e as celas solitárias, onde o preso "não poderá ver a luz do dia". O início das transferências de detentos ao novo complexo ainda não foi divulgado.

Para Amparo Marroquín, pesquisadora de comunicação política no Conselho Latino-americano de Ciências Sociais, Bukele tenta vender a ideia de que produziu instalações de primeiro mundo, à semelhança do que já havia feito com os hospitais construídos para lidar com a crise do coronavírus.

"Ele se marca como o homem forte e punitivo que vai colocar na prisão todos os bandidos", diz a pesquisadora. "Simbolicamente, é a finalização de uma narrativa. 'Te castigo e agora tenho um lugar perfeitamente equipado para te punir'."

Johanna Ramírez, do grupo de Atenção a Vítimas do Serviço Social Passionista, afirma que a megaprisão criada pelo governo não contempla demandas reais do sistema penitenciário salvadorenho. Uma nova prisão deveria implicar em clareza sobre quem será transferido, sob quais critérios e se haverá notificações oficiais à Justiça.

"Continuamos preocupados com a situação dos direitos humanos do país. Há quem desconheça a situação legal de seus familiares presos e até quem não sabe se seus entes estão vivos", afirma Ramírez. "Esperamos que, com a construção desse megacentro, permita-se a entrada de organizações internacionais para averiguar a situação das pessoas presas."

A inauguração acontece um ano antes do pleito de 2024, em que Bukele vai concorrer contrariando a Constituição salvadorenha, que veta a reeleição direta. O político fechou 2022 com uma aprovação de 88%, um recorde nas Américas, segundo pesquisa do jornal La Prensa Gráfica.

Bukele adota um discurso linha-dura. Em seu Twitter, o presidente publica fotos das detenções e chegou a dizer que racionaria a comida nas prisões. "Se a 'comunidade internacional' está preocupada com seus anjinhos, venham e tragam comida a eles, porque eu não tirarei orçamento das escolas para dar comida a esses terroristas", afirmou em publicação no ano passado.

No vídeo desta quarta, sem apresentar provas, o presidente afirma que os governos anteriores permitiam que os presos tivessem acesso a prostitutas, videogames, celulares e computadores, o que ele chamou de "premiação dos delinquentes".

Sob a justificativa de travar uma guerra contra as pandilhas, grupos criminosos do país, Bukele aprovou, em março de 2022, um estado de exceção no país que dura até hoje. A medida foi uma resposta ao fim de semana mais letal de El Salvador desde 2001 -foram 87 mortes em 72 horas na ocasião.

Antes disso, o país que era um dos mais violentos do mundo registrava dias com nenhuma morte. Há evidências de que a onda de violência explodiu devido ao fim de um pacto do governo com criminosos. Em maio, o jornal El Faro revelou áudios que mostravam negociações entre um membro do governo e a MS-13, uma das três principais pandillas do país. Após o estado de exceção, taxas de homicídio voltaram a cair.

Diversos órgãos de direitos humanos, além de moradores, no entanto, denunciam a prisão de inocentes e suspeitas de maus-tratos nos centros penitenciários. Na sexta-feira (27), a Human Rights Watch afirmou que uma base de dados obtida pela organização sustenta a existência de superlotação severa das prisões, violações em massa do devido processo legal e prisões de adolescentes. Segundo a ONG, os dados são do Ministério da Segurança Pública e listam pessoas processadas sob o estado de exceção.

A HRW afirma ainda que, no final de agosto, 1.082 menores de idade foram presos --918 do sexo masculino e 164, do feminino--, incluindo 21 adolescentes de 12 e 13 anos. O banco de dados também contabiliza ao menos 32 pessoas mortas sob custódia do Estado.


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