Para combater estes "conteúdos contrários aos costumes e tradições" da sociedade iraquiana, em grande parte conservadora e patriarcal, o Ministério do Interior anunciou a criação de um comitê especializado em meados de janeiro.
"Esse tipo de conteúdo não é menos perigoso que o crime organizado. É uma das causas da destruição da família e da sociedade iraquiana", disse o ministério em um vídeo publicado nas redes sociais.
Om Fahad fue foi uma das primeiras a sofrer as consequências da nova política.
Com mais de 145 mil seguidores no TikTok, a jovem foi condenada, no início de fevereiro, a seis meses de prisão por publicar vídeos em que aparece com roupas justas e dançando música pop iraquiana.
Dias depois, outra influenciadora, Assal Hossam, foi condenada a dois anos de prisão por compartilhar vídeos em que mostra seu corpo, às vezes vestida com uniforme militar.
No total, 12 pessoas foram detidas por "conteúdos decadentes", segundo um responsável do Ministério do Interior que não quis ser identificado.
As autoridades receberam cerca de 96 mil denúncias do público através de uma plataforma criada pela pasta. Segundo a Justiça iraquiana, já foram proferidas seis sentenças nestes casos.
Em Amara, no sul do Iraque, um juizado interrogou recentemente quatro celebridades das redes sociais sob suspeita de "ofender os costumes públicos e atentar contra o pudor", disse um comunicado do Conselho Judicial.
Entre os acusados que foram liberados estão Abud Skeba, conhecido por vídeos humorísticos realizados com sotaque americano, e Hasán Al Chamri, que interpreta "Madiha", uma iraquiana de origem humilde e temperamento forte .
Chamri posteriormente afirmou que havia deletado algumas postagens com conteúdo "ofensivo". No entanto, disse querer continuar gravando vídeos.
Para perseguir estas personalidades da internet, o Estado recorre a certos artigos do código penal "com terminologia vaga e elástica, como costumes públicos e atentado ao pudor", lamenta Mustafa Sadun, do Observatório Iraquiano dos Direitos Humanos.
Segundo Sadun, com a repressão atual, ele teme que o poder esteja "medindo a temperatura" da sociedade "antes de passar para uma fase mais perigosa e responsabilizar todos aqueles que criticam instituições estatais e governantes".
Já o comentarista político Ahmed Ayyash al Samarrai, que declarou apoio à condenação dos influenciadores, acredita que eles não são os únicos culpados.
"Há 20 anos, vemos todos os dias o conteúdo decadente apresentado por políticos baratos, barões da política e aqueles que se dizem homens de religião", denunciou no Twitter.