"Com a ajuda" dos serviços de segurança de Burkina Faso, a "operação de manipulação" feita pela Percepto pretendia "prejudicar a imagem de uma ONG internacional considerada um pouco crítica demais" com a capital Uagadugu, de acordo com o jornal Le Monde, um dos meios de comunicação do Forbidden Stories.
A Percepto supostamente organizou uma operação para que a coluna publicada em agosto de 2020 na revista francesa Valeurs actuelles tivesse impacto nas redes sociais. No conteúdo, a ação do CICV em Burkina Faso era criticada, dando a entender que o comitê negociava com grupos jihadistas.
"Durante uma dessas reuniões, Percepto detalhou o desenvolvimento da campanha contra o CICV, que foi apresentado como um 'exemplo típico' de suas ações", segundo o Le Monde.
O fórum apontava para uma prática comum das ONGs em zonas de conflito, na qual negociam com os diferentes lados para realizar suas ações. Entretanto, criticou o CICV por negociar com grupos jihadistas em Burkina Faso.
O texto da coluna foi escrito pelo analista geopolítico Emmanuel Dupuy, um conhecido consultor citado regularmente na mídia na França, inclusive pela AFP.
Dupuy afirmou à AFP que desconhecia a existência do Percepto e explica que o tema foi sugerido pelo israelense Samuel Sellem, assessor do então presidente de Burkina Faso, Roch Marc Christian Kaboré.
"Tudo é verdade na coluna. Eu não retiraria uma vírgula", acrescenta o analista, que especificou não ter cobrado pelo serviço.
O presidente do CICV, Peter Mauer, garantiu que não falam com os grupos armados "por prazer ou para lhes dar qualquer legitimidade", mas "por uma necessidade humanitária". Ele denunciou as "insinuações" da coluna.
Segundo o Forbidden Stories, a reação de Mauer, reproduzida na época em um factual da AFP, "amplificou" a notícia e contribuiu para o sucesso da campanha da Percepto.
"A AFP relatou em um factual, em 14 de setembro de 2020, a coletiva de imprensa do presidente do CICV em Uagadugu de maneira objetiva, de acordo com as práticas jornalísticas de uma das maiores agências de imprensa internacionais. Em nenhum momento a Agence France-Presse havia noticiado o conteúdo da coluna dos Valeurs actuelles", explicou o diretor de informações da AFP, Phil Chetwynd.
O consórcio lembra que a Percepto não existia como tal na época e que um de seus gerentes, Roy Burstien, ex-membro da inteligência militar israelense, dirigia outra empresa do setor.
PARIS