Peritos científicos entregaram um relatório à juíza chilena Paola Plaza, responsável pelo caso, que irá revisar as conclusões dos especialistas antes de emitir uma decisão. Embora tenham detectado a presença da bactéria do botulismo nos restos mortais de Neruda, os cientistas não podem confirmar se ela foi introduzida intencionalmente em seu corpo.
A bactéria 'Clostridium botulinum' "estava lá no momento de sua morte, mas ainda não sabemos por quê. Só sabemos que não deveria estar lá", disseram à AFP Hendrik e Debi Poinar, da Universidade McMaster, no Canadá, em troca de mensagens de texto.
Os cientistas confirmaram à AFP as declarações publicadas em um artigo na quarta-feira pela Universidade McMaster, que afirma que até agora "não foi possível concluir se a cepa de 'C.botulinum', encontrada nos restos mortais de Neruda, o matou, nem se foi usada intencionalmente para matá-lo".
Os pesquisadores fazem parte do painel internacional de especialistas científicos convocado pela justiça chilena para averiguar a causa da morte de Neruda, ocorrida em 23 de setembro de 1973.
Hendrik e Debi Poinar sustentaram que, a pedido dos tribunais chilenos, trabalharam durante quatro anos para determinar a presença e relevância da bactéria no corpo de Neruda quando ele morreu em uma clínica em Santiago.
- Pesquisas futuras -
Os pesquisadores alegaram ter recuperado DNA suficiente de um dente de Neruda, mas, devido à degradação, só conseguiram reconstruir um terço do genoma do 'Clostridium botulinum' em questão.
Eles afirmaram, no entanto, que o trabalho pode ser concluído no futuro sem a necessidade de uma nova exumação caso o tribunal autorize o procedimento.
Segundo a versão oficial, Neruda, de 69 anos e conhecido militante comunista, morreu em uma clínica de Santiago em 23 de setembro de 1973, em decorrência de um câncer de próstata.
Sua morte ocorreu 12 dias após o golpe militar que derrubou o governo de Salvador Allende e impôs uma ditadura chefiada por Augusto Pinochet.
A investigação judicial sobre as causas da morte de Neruda começou em 2012, depois que seu ex-motorista, Manuel Araya, disse à imprensa em 2011 que o poeta poderia ter sido envenenado pela ditadura de Pinochet, que deixou mais de 3.200 mortos e cerca de 38.000 torturados, segundo dados oficiais.
Araya confirmou nesta quinta-feira em conferência de imprensa que Neruda não estava doente o suficiente para ser internado em uma clínica em 19 de setembro de 1973, mas que se tratava de uma estratégia para que o poeta fosse para o exílio no México.
"Foi por segurança. Em 14 de setembro havia tanques perto da casa de Pablo Neruda em Isla Negra. Os militares cercaram nossa casa. Então, o problema foi como tiramos Pablo Neruda de casa", relatou Manuel Araya.
Depois de anos de perícia e estudos científicos, em 2017 um grupo de especialistas chilenos e estrangeiros garantiu que o autor do "Canto geral" não morreu de câncer, embora o painel não pudesse determinar a causa da morte.
Por este motivo foram solicitados estudos a laboratórios da Dinamarca e do Canadá, alguns dos mais avançados na área, para tentar esclarecer a morte de Neruda.