Jornal Estado de Minas

SÃO PAULO

Lula visita área atingida por temporal que deixou mortos e desaparecidos no litoral paulista

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou nesta segunda-feira (20) a região do litoral paulista onde as chuvas torrenciais mais intensas da história do país deixaram quarenta mortos e dezenas de desaparecidos durante o fim de semana de carnaval.



Os trabalhos de resgate concentraram-se no grande município de São Sebastião, destino balnear localizado a cerca de 200 quilômetros da cidade de São Paulo e que sofreu com chuvas "recordes".

Lula, que passou alguns dias de folga na Bahia, viajou até o local para sobrevoar a área do desastre onde deslizamentos destruíram pelo menos 50 casas, segundo um vídeo oficial.

Da aeronave, era possível testemunhar rios de água barrenta cobrindo as casas próximas às praias.

O presidente reuniu-se com as autoridades regionais e locais.

É importante "a gente não construir mais casas num lugar que pode ser vítima de outra chuva e um desabamento poda fazer que outras pessoas morram", declarou Lula à imprensa, ao citar o problema de urbanismo improvisado que assola boa parte do país.

No Brasil, 9,5 milhões de pessoas vivem em áreas de risco de deslizamentos ou alagamentos, muitas delas em favelas, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Brasil (Cemaden).

Lula também destacou que a cooperação entre autoridades governamentais, de diferentes partidos, é essencial para o Brasil, que segue em um clima político tenso após as eleições presidenciais polarizadas e o ataque de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes por seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro.



Em São Sebastião, em cujas praias muitos paulistas passaram o feriado de carnaval, mais de 600 mm de chuva caíram em 24 horas, mais que o dobro do esperado para o mês, segundo as autoridades.

O governo de São Paulo informou que as chuvas no litoral paulista marcaram o maior acumulado da história do Brasil, resultando em uma das "maiores tragédias da história" do estado.

Foram 682 mm de água, número superior ao do temporal que atingiu a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro em 2022, e deixou um saldo de 241 mortes, e Florianópolis (sul) em 1991, onde caíram 400 mm em 24 horas.

O Brasil é palco frequente para eventos extremos e os cientistas não descartam uma ligação com os efeitos das mudanças climáticas.

Na noite desta segunda-feira, o governo de São Paulo elevou para 40 o número de mortos: 39 em São Sebastião e uma menina em Ubatuba. Dezenas de pessoas continuam desaparecidas.

Foram registradas 1.730 pessoas evacuadas e 766 desabrigadas, segundo as autoridades, que mobilizaram mais de 600 socorristas, soldados e policiais no trabalho de resgate.



- "Perdi tudo" -

A casa da empregada doméstica Patrícia da Silva, de 31 anos, foi destruída pela correnteza de lama e pedras que caiu encosta abaixo na madrugada de domingo na praia de Juquehy.

"Estou muito triste, desorientada, nem sei o que fazer", disse à AFP esta mãe de duas meninas de 9 e 15 anos. "Eu perdi tudo".

"Ficamos assutados (...) O vidro do banheiro estourou com a água. Ouvimos a água cair, com árvores e pedras. A água entrou e chegou até os ombros", explicou Vanesa Cristina Caetano, 41, que mora com marido e dois filhos, de 23 e 11 anos.

As estradas continuavam bloqueadas em pelo menos dez pontos, segundo o governador Tarcísio de Freitas, que decretou luto de três dias em São Paulo e "estado de calamidade" em seis municípios para facilitar o envio dos recursos.

Além disso, o governo do estado liberou cerca de 7 milhões de reais para os serviços de resgate.

Além disso, o Ministério da Fazenda anunciou que enviará cerca de 11 milhões de reais em roupas, calçados e artigos de higiene pessoal e limpeza.



"O processo de reconstrução será lento", disse o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto.

- Solidariedade do surfe -

Imagens divulgadas pela imprensa e usuários de redes sociais mostram bairros inteiros debaixo d'água; escombros de casas arrastados por deslizamentos de terra; estradas afundadas e carros destruídos por árvores caídas.

Com as comemorações de carnaval interrompidas em São Sebastião e em outras regiões, algumas personalidades do surfe, identificadas com a região do litoral paulista, foram às redes sociais para ajudar no resgate das vítimas do temporal.

Em oração por todos vocês que estão nessa situação no litoral norte de SP. Sejam fortes", escreveu no Instagram Gabriel Medina, tricampeão mundial de surfe, que compartilhou o número de uma conta bancária que recebe doações.

Medina, com quase 11 milhões de seguidores no Instagram, vive em Maresias, uma das cidades que ficou incomunicável após as chuvas.

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