O tremor do início do mês, que abalou o norte da Síria, fez o prédio vizinho ao de Um Munir desabar, levando junto uma das fachadas de seu prédio.
Mas ela se recusa a deixar o apartamento para se refugiar em abrigos, ou com familiares, como muitos fizeram em sua cidade.
"Nada vai me tirar de casa a não ser a morte. Depois vou direto para o cemitério", diz ela, apontando para sua cama coberta de pedras e os armários e cômodas danificados.
Seu apartamento fica no quarto andar de um edifício devastado no bairro de Macharka, em Aleppo, cidade fortemente atingida pela guerra civil na Síria entre 2012 e 2016.
"Tínhamos dinheiro, a guerra mudou nossa situação, mas mantivemos nossa dignidade", diz Um Munir, mãe de dois filhos que estão fora do país.
Aos poucos, a viúva reconhece que o prédio corre riscos de desabar, caso haja um novo terremoto no bairro, onde 30 pessoas morreram após o ocorrido no início do mês.
Dois fortes tremores secundários de magnitudes 6,4 e 5,8 atingiram a região novamente na noite de segunda-feira (20), espalhando pânico em Aleppo.
O terremoto de magnitude 7,8 que atingiu a Turquia e a Síria em 6 de fevereiro deixou quase 45.000 mortos nos dois países, mais de 3.600 deles em território sírio.
- "Não temos para onde ir" -
Ali El Bach, vizinho de Um Munir, também decidiu ficar em sua casa no primeiro andar do prédio. Seu quarto foi transformado em uma varanda com vista para o vão deixado pelo desabamento do prédio ao lado.
"Não temos para onde ir", contou o homem de 55 anos que se diz "acostumado ao perigo" após seu edifício ter sido atingido por granadas no período da guerra civil.
Sua mãe, Amina Raslan, que também mora no local, contém as lágrimas enquanto mostra a destruição em seu apartamento.
"Aqui tinha um quadro pintado pelo meu filho, ao lado dele, um guarda-roupa e um relógio (...) tudo desabou quando o prédio caiu", conta a mulher de 85 anos que perdeu dois filhos na guerra.
"Moramos aqui há 50 anos, não posso ir para outro lugar. Não estou acostumada a morar na casa de outra pessoa, ou em um abrigo, e não temos dinheiro para alugar um apartamento", diz ela.
Outro afetado pelo terremoto é Mohamad Jawich, que vivia em um apartamento de 100m2 e não teve escolha a não ser sair do local.
Sentado em frente a uma tenda branca doada por uma ONG, em uma praça do bairro Bustan Al Bacha, ele observa com lágrimas nos olhos os netos brincarem com uma bola.
"Perdi tudo, minha casa, minhas economias, tenho que começar do zero", diz o homem de 63 anos.