Jornal Estado de Minas

VIENA

Osce faz reunião na Áustria em meio a protestos pela presença de russos

Em Viena, a reunião da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (Osce) foi marcada nesta quinta-feira (23) por protestos, devido à presença de parlamentares russos que são alvos de sanções internacionais.



É a primeira vez que deputados russos visitam áreas da União Europeia desde a invasão da Ucrânia. A viagem acontece graças à concessão de vistos feitos pela Áustria, que apesar das críticas não abdica da tradicional proximidade com Moscou.

O país europeu concedeu nove vistos aos russos, seis deles para pessoas sancionadas pela UE, alegando que teria que concedê-los já que a Osce tem sede em Viena.

A Ucrânia e Lituânia já declararam que irão boicotar a reunião, uma assembleia parlamentar dos 57 membros da organização.

A delegação russa é liderada por Piotr Tolstói, vice-presidente da Duma, a câmara baixa do Parlamento da Rússia.

A reunião foi transmitida ao vivo e os jornalistas não foram autorizados a entrar com câmeras.

"A agressiva guerra russa na Ucrânia colocou em perigo a segurança na Europa, e a Rússia está violando todos os princípios" do órgão, declarou a presidente da Assembleia Parlamentar da Osce, Margareta Cederfelt, no início da sessão.

Segundo uma nota do Ministério das Relações Exteriores da Áustria, o país declara estar vinculado a um "acordo internacional" com o órgão sediado em sua capital. Por isso, são obrigados a autorizar a participação desses deputados mesmo que estejam sujeitos a sanções da União Europeia.



Nas duas reuniões do ano passado sediadas no Reino Unido e na Polônia, os países organizadores não concederam os vistos aos russos e, diferente desta vez, os meios de comunicação puderam acessar o encontro.

Além do boicote, que acontece no aniversário de um ano do início da ofensiva russa, a diferença de tratamento levou parlamentares de 20 países a criticarem a Áustria.

- Neutralidade e diálogo -

"O momento é muito infeliz", admitiu o ministro das Relações Exteriores, Alexander Schallenberg, em uma recente entrevista na televisão.

Para ele, "precisamos de plataformas de diálogo" como a Osce, criada em 1975 e muitas das vezes com posições divergentes.

O chefe de governo austríaco, Karl Nehammer, tentou uma mediação inicial com o presidente russo, Vladimir Putin, na intenção de manter laços, chegando até a viajar para Moscou em abril de 2022.

Professor de relações internacionais na Universidade de Innsbruck, Gerhard Mangott explicou que, "na realidade, a Áustria rompeu claramente com Moscou desde o início da guerra e ficou do lado de Kiev sem hesitar".



O governo, composto de ambientalistas e conservadores, expulsou no começo de fevereiro vários diplomatas suspeitos de espionagem, uma atitude rara para Viena.

O apoio a Kiev é inconfundível, embora o país não forneça armas devido ao seu status de neutralidade militar. A Áustria fornece ajuda humanitária e acolhe milhares de refugiados ucranianos.

Com relações diplomáticas com Moscou desde 1698, o governo austríaco estendeu o tapete vermelho por muito tempo para Putin, que até dançou no casamento de uma ministra em 2018.

Antes do conflito, Viena importava quase 80% de seu gás da Rússia.

A Áustria mantém o seu princípio de neutralidade militar e não pretende entrar na Otan, como a Suécia ou Finlândia.

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