"Rompemos o diálogo", disse Leonidas Iza, presidente da poderosa Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), ao informar pelas redes sociais sobre resoluções adotadas pelo conselho ampliado da entidade, que se reuniu na sexta-feira em Quito e pediu a renúncia do presidente.
O governo rejeitou o que denominou de "atitude antidemocrática de certos setores políticos" e sustentou que se mantém aberto a dialogar.
O Executivo "rejeita as declarações de certos dirigentes que - ao invés de se inclinar por um debate de ideias, como é um diálogo deliberativo, próprio da democracia -, optaram por, abruptamente, se retirar das mesas de diálogo", reagiu, em nota, o ministro do governo (chefe da Casa Civil), Henry Cucalón.
O governo e a Conaie encerraram, em outubro, negociações que realizaram como parte de um "ato de paz", que pôs fim às manifestações de junho, mas sem alcançar um acordo sobre combustíveis, o tema mais sensível das negociações.
Aquelas manifestações deixaram seis mortos e pelo menos 600 feridos entre membros das forças de segurança e civis.
- "Apresente sua renúncia" -
Os povos originários reivindicavam principalmente uma redução de 21% nos preços dos combustíveis mais usados. O Executivo concordou com uma redução de até 8%, ficando em 1,75 dólar (R$ 9,12) o galão de diesel e em 2,40 dólares (R$ 12,50) o de gasolina comum. Um galão equivale a 3,78 litros.
Mas a Conaie mantém a reivindicação de mais subsídios aos combustíveis para alguns setores como o dos indígenas.
Durante as negociações, nas quais a Igreja Católica atuou como avalista, foram alcançados 218 acordos em dez mesas temáticas como saúde, educação, direitos trabalhistas e fomento à produção, segundo o governo.
Iza afirmou, ainda, que a administração de Lasso, iniciada em maio de 2021, "não cumpriu seus compromissos", como também a moratória de dívidas de camponeses com o sistema financeiro.
Cucalón refutou as palavras do líder indígena e assegurou que o governo entregou 120 milhões de dólares (R$ 625,2 milhões, aproximadamente) em créditos ao setor rural e refinanciou empréstimos de até 3.000 dólares (cerca de R$ 15.600).
"Estamos instrumentalizando o enfoque de subsídios, com um planejamento estabelecido e prazos definidos", acrescentou.
A Conaie também pediu, na sexta-feira, a renúncia de Lasso, no poder desde 2021, e cujo cunhado, Danilo Carrera - muito próximo dele - foi salpicado por denúncias de corrupção no setor energético, e convocou uma nova mobilização para o dia 8 de março.
"Exigimos que o presidente, (...) por sua incapacidade de governar e resolver os problemas mais sensíveis, apresente sua renúncia ao país", afirmou Iza.
Cucalón disse, por sua vez, que "todo ato de manifestação que se realize de forma pacífica será garantido pelo Governo".
"Não rompemos nenhum diálogo (...) Os canais serão mantidos abertos permanentemente. Fazemos um apelo para que se priorizem a racionalidade, a convivência pacífica e a unidade de propósitos a favor do país", afirmou o ministro de Governo.
A Conaie participou de revoltas que provocaram a queda de três presidentes entre 1997 e 2005.