Estamos celebrando "os que deram sua vida e seu sangue" pela paz, disse à AFP Diego Rivera, sobrevivente da guerra no município de Nebaj, no noroeste da Guatemala.
Junto com os povoados de Cotzal e Chajul, Nebaj faz parte da região maya-ixil, onde ocorreram massacres de indígenas.
Por esses crimes, tipificados como genocídio, a Justiça condenou, em 2013, a 80 anos de prisão o ex-ditador Efraín Ríos Montt (1982-1983). No entanto, a sentença foi anulada posteriormente por erros processuais.
O general reformado morreu em 2018, aos 91 anos, enquanto o julgamento era realizado novamente.
Desde 2004, comemora-se em 25 de fevereiro o Dia Nacional de Dignificação das Vítimas da guerra civil na Guatemala. A data representa o dia em que foi apresentado o relatório, em 1999, "Memória do Silêncio", da comissão da verdade patrocinada pela ONU.
O documento concluiu que a guerra entre o governo e facções guerrilheiras de esquerda - finalizada em 1996 com a assinatura da paz - deixou mais de 200.000 mortos e desaparecidos, e responsabilizou as forças de segurança do Estado, principalmente o Exército, de 93% das violações de direitos humanos.
Rivera, um agricultor de 68 anos, contou que existe "descontentamento" entre os familiares e as vítimas do conflito armado com o governo do atual presidente Alejandro Giammattei, de direita, a quem acusam de não atender aos pedidos de uma reparação digna.
"Todas as sequelas deste conflito permanecem em nossas vidas", afirmou Juana Baca, 48, integrante da Rede de Mulheres Ixiles.
Durante a homenagem em Nebaj, um cartaz gigante foi exibido com a frase "Rios de Sangue na Guatemala Nunca Mais", em rechaço à candidatura presidencial para as eleições de junho da ex-deputada Zury Ríos, filha do ditador Ríos Montt.
Na sexta-feira, grupos de vítimas entraram com uma ação judicial contra essa candidatura, alegando que um artigo da Constituição proíbe a participação política de familiares de pessoas que lideraram golpes de Estado.
A restrição constitucional impediu que Zury Ríos participasse da eleição presidencial de 2019, mas o tribunal eleitoral avalizou sua candidatura no pleito deste ano.