"Hoje houve progresso, mas ainda há trabalho a ser feito para garantir que o que foi acordado seja implementado", declarou Borrell após uma reunião com o presidente sérvio, Aleksandar Vucic, e o primeiro-ministro de Kosovo, Albin Kurti.
A União Europeia (UE) apresentou às duas partes um plano que é estritamente confidencial e que visa resolver as divergências entre os países.
Ambos os líderes concordaram em colocar em prática o acordo proposto pela União Europeia, mas as modalidades para sua implementação ainda não foram negociadas, disse Borrell.
Uma nova reunião será organizada para esse fim em março e o enviado da UE, Miroslav Lajcak, viajará a Belgrado e Pristina para continuar as negociações, explicou Borrell.
O conflito entre sérvios e kosovares tem origem na sangrenta guerra na década de 1990 na ex-Iugoslávia.
Em 2008, Kosovo declarou sua independência da Sérvia, algo que o governo sérvio nunca reconheceu.
A tensão atingiu níveis preocupantes nos últimos anos e, por isso, a UE decidiu aumentar a pressão diplomática para evitar um novo conflito.
- Pressão crescente -
"Acredito que estamos no caminho certo para a normalização das relações com a Sérvia", reagiu Kurti. No entanto, o líder da ex-província sérvia indicou que não assinou o acordo "porque a outra parte não estava pronta para fazê-lo".
"Eu expressei minha vontade e meu interesse em assinar o texto. É lamentável não ter sido assinado esta noite porque estávamos de acordo", acrescentou.
O presidente sérvio garantiu no Instagram que o encontro "foi difícil, como previsto", e que não houve "capitulação".
"É bom que tenhamos conversado e acredito que poderemos superar os movimentos unilaterais que colocariam em perigo a segurança das pessoas sobre o terreno", declarou após a reunião.
O presidente acrescentou, porém, que ainda não existe um "roteiro" e que é preciso trabalhar nisso.
Vucic admitiu recentemente forte pressão internacional para fechar um acordo com Kosovo e evitar outro conflito no coração da Europa, mas também internamente para não ceder ao reconhecimento da independência kosovar.
Ao iniciar sua viagem a Bruxelas nesta segunda-feira, Vucic disse aos repórteres que "não haverá capitulação, não voltaremos aos anos 90", referindo-se à década em que toda a região mergulhou em um conflito sangrento.
Kurti declarou ao parlamento de Kosovo na semana passada que o acordo atualmente em andamento abriria caminho para a entrada do território em várias instituições internacionais, um objetivo há muito buscado por seu governo.
- Preocupações da UE -
Em meio a preocupações generalizadas sobre a guerra entre Ucrânia e Rússia, a UE tenta desesperadamente evitar um novo conflito.
Além disso, as instituições europeias não escondem sua preocupação com a proximidade entre a Sérvia e a Rússia e mostram-se determinadas a impedir que Moscou use o problema de Kosovo para dividir ainda mais a Europa.
Na sexta-feira, um alto funcionário da UE disse a repórteres que a Rússia tentava ativamente atrapalhar as negociações entre os dois lados.
Kosovo continua sendo uma obsessão para grande parte da população sérvia, que considera o território como sua pátria legítima onde batalhas cruciais foram travadas ao longo dos séculos.
Kosovo é o lar de cerca de 120.000 sérvios, muitos dos quais permanecem leais a Belgrado, especialmente nas áreas do norte, perto da fronteira com a Sérvia, onde há frequentes tumultos, manifestações e violência ocasional.
BRUXELAS