"Como é de praxe, eles sempre se metem em assuntos que não lhes dizem respeito", disse López Obrador, em sua coletiva de imprensa diária, ressaltando que as expressões do Departamento de Estado contradizem a ideia do presidente Joe Biden de pé de "igualdade" nas relações bilaterais.
Dirigindo-se ao secretário de Estado americano, Antony Blinken, o presidente destacou, de forma taxativa, que "há mais democracia hoje no México do que nos Estados Unidos".
"Em vez de ficar se metendo, agindo de uma maneira intervencionista nos nossos assuntos, se quiserem continuar com a mesma política, então que se ocupem do que está acontecendo no Peru", disse o presidente, ao denunciar o apoio de Washington "aos golpistas que pisotearam as liberdades e a democracia nesse país".
No domingo passado, após um protesto de centenas de milhares de opositores contra a reforma e contra o governo de López Obrador, o subsecretário de Estado americano para a América Latina, Brian Nichols, considerou que essas mudanças "põem à prova a independência das instituições eleitorais e judiciais".
Na segunda-feira (27), o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, disse, por sua vez, que os Estados Unidos apoiam "instituições eleitorais independentes" em todo o mundo e que isso é válido para o México.
- "Governo do mundo" -
A reforma aprovada na semana passada pela maioria governista no Congresso reduz o orçamento e a folha de pagamento do Instituto Nacional Eleitoral (INE), entidade que deve organizar a eleição presidencial em meados de 2024. Segundo López Obrador, a instituição custa muito dinheiro aos cofres públicos e já tolerou fraudes no passado.
"Não abandonam a política de dois séculos atrás (...) de se sentirem o governo do mundo", insistiu o primeiro presidente de esquerda do México, que destacou que enquanto nos Estados Unidos "a oligarquia governa", em seu país, "o povo governa".
A reforma, que modificou várias leis eleitorais, enfrenta vários processos na Suprema Corte de Justiça.
Para os partidos de oposição, essas alterações afetam a independência do INE e inclinam a balança a favor da esquerda com vistas à próxima disputa presidencial, para a qual López Obrador não tem opções legais para tentar a reeleição.
Para o presidente, as críticas escondem a intenção de seus opositores "conservadores" de se manterem no controle do órgão para voltar ao poder e perpetuar a corrupção.
López Obrador tem boas relações com Biden, a quem recebeu em janeiro deste ano para uma reunião bilateral e celebrar a Cúpula de Líderes da América do Norte junto com o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.
Os dois países, que compartilham uma fronteira de mais de 3.000 km, mantêm estreitas relações comerciais e no tema migratório, em um contexto de aumento do fluxo de migrantes em situação ilegal. Nesse tema, em específico, a Casa Branca precisa do apoio mexicano.
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