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Estado de Minas PARIS

Costa do Marfim busca soberania alimentar com cultivos próprios como a mandioca


01/03/2023 15:23

A crise de abastecimento de cereais, provocada pela guerra na Ucrânia, evidenciou a necessidade de que a "África alimente a África" com produtos como a mandioca e o milho, disse à AFP o ministro marfinense da Agricultura, Kouassi Adjoumani, no Salão Agrícola de Paris.

PERGUNTA: Como a Costa do Marfim reduzirá sua dependência das importações de alimentos?

RESPOSTA: A crise na Ucrânia não provocou apenas danos, também deu ideias para que possamos produzir nossa própria soberania alimentar.

Temos tido dificuldades no fornecimento de insumos de primeira necessidade, de trigo [importado principalmente de Rússia e Ucrânia]. Decidimos, consequentemente, afirmar que no lugar podemos produzir mandioca, e de sua farinha pode-se fazer pão.

Nossa economia de base é a nossa agricultura, que representa 22% do PIB nacional. Produzimos café, cacau, hévea (seringueira), que são cultivos rentáveis. Mas, hoje em dia pensamos em uma diversificação agrícola.

Estamos entre os primeiros produtores de cacau, caju, noz-de-cola, mas não são produtos que nós consumimos, e por isso nossa política desenvolve a produção de alimentos, verduras e hortaliças.

Queremos nos concentrar em uma produção local de inhame, mandioca e milho.

Com nosso programa de reativação agrícola, começamos a restaurar os instrumentos produtivos destruídos pela crise. Mas dissemos a nós mesmos que seria preciso ir mais longe, melhorar a conservação e a transformação dos alimentos. Grande parte da nossa produção não chega ao mercado, devido às perdas posteriores à colheita, pela falta de centros de armazenamento e de usinas de transformação.

PERGUNTA: Como melhorar a transformação, sobretudo do cacau?

RESPOSTA: A Costa do Marfim representa 40% da produção mundial [de cacau]. Com Gana [20%], decidimos falar em uníssono: para que os produtores sejam mais bem remunerados, devemos transformar localmente os nossos produtos.

Quando realizada na Costa do Marfim, onde oito milhões de pessoas vivem do cultivo do cacau, a transformação em manteiga ou em pó aporta uma mais-valia aos produtores: a remuneração chega de 25.000 a 30.000 francos CFA por quilo de cacau transformado (de 207 a 254 reais), frente aos 900 francos CFA por quilo bruto (7,58 reais).

Dizemos, então, às multinacionais que invistam na Costa do Marfim, que construam fábricas para transformar as favas de cacau em chocolate, o que também reduzirá o custo de transporte para a Europa. E que se os produtores forem pagos de forma regular, as pessoas não vão desmatar.

PERGUNTA: De que forma os países trabalham em conjunto para garantir a produção de alimentos no continente?

RESPOSTA: A África deve alimentar a África e, para isso, programas devem ser elaborados. Alguns países têm dificuldades de produção, por incidentes climáticos ou falta de chuva. Na Costa do Marfim, podemos produzir mais e enviar o excedente aos países fronteiriços.

Decidimos trabalhar juntos e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) anunciou um financiamento de 10 bilhões de dólares [aproximadamente 50,9 bilhões de reais no fim de janeiro, para que a África se torne o principal fornecedor de seus próprios alimentos]. Na Costa do Marfim, estes recursos não vão servir para financiar produtos rentáveis, mas cultivos de alimentos e de verduras e hortaliças.


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