Jornal Estado de Minas

PARIS

Prisioneiras reivindicam direitos na penitenciária de Evin, no Irã

Dentro da penitenciária de Evin, no Irã, algumas detentas se organizam em grupos ao redor de um telefone. "Ouçam bem: um, dois e três!", gritam antes de começarem a cantar a famosa canção italiana "Bella ciao" em farsi, uma língua persa.



"Uma por todas e todas por uma!", entoam entre sorrisos e aplausos, um ato de provocação às autoridades e apoio às manifestações no Irã.

A gravação foi feita em janeiro pela filha de Alieh Motalebzadeh, jornalista e defensora dos direitos das mulheres, enquanto falava com a mãe em uma chamada telefônica.

O áudio divulgado nas redes sociais se tornou um símbolo da resistência das detentas da prisão de Evin, conhecida por suas más condições, e pela vontade de continuar a onda de protestos.

Várias mulheres estão presas há anos, como a ativista ambiental Nilufar Bayani, detida em 2018. Outras passaram a última década alternando entre o cárcere e períodos de liberdade.

Algumas foram presas muito antes das manifestações após a morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini, detida pela polícia da moralidade no ano passado por supostamente violar o rígido código de vestimenta feminina da República Islâmica.

- Medidas "midiáticas" -

O número de prisioneiras em Evin não para de crescer desde a escalada da repressão contra os protestos no país.



Algumas foram libertadas nas últimas semanas, como Motalebzadeh.

Teerã anunciou pouco antes um perdão para "um número significativo" de detentas. No entanto, defensores dos direitos humanos consideram esta medida um "golpe midiático".

Muitas ativistas famosas permanecem atrás das grades, como as militantes dos direitos humanos Narges Mohammadi e a germânico-iraniana Nahid Taghavi, as ativistas ambientais Sepideh Kashani e Niloufar Bayani e a de direitos trabalhistas Sepideh Gholian.

Estas mulheres continuam privadas de liberdade porque a República Islâmica "treme diante de suas palavras", considera Jasmin Ramsey, vice-diretora do Centro para os Direitos Humanos no Irã, com sede em Nova York.

"O véu é um dos pilares da Revolução Islâmica, assim como a submissão das mulheres. Eles odeiam quando as mulheres falam 'eu posso fazer o que eu quiser'".

- "O som da revolução" -

A instituição de Ramsey divulgou uma petição, assinada por quase 40 grupos de defesa dos direitos humanos e dirigida à Suécia, que ocupa a presidência semestral da União Europeia, para pedir aos Estados-membros que convoquem os embaixadores iranianos em seus países para o Dia Internacional da Mulher, 8 de março.



O objetivo é pedir às autoridades que parem de "aprisionar e perpetrar a violência contra mulheres que exigem seus direitos e liberdades fundamentais no Irã" e que ponham "fim à violência física e sexual contra presas e manifestantes".

Narges Mohammadi, uma das que mulheres que cantou "Bella ciao", emergiu nos últimos meses como uma das prisioneiras mais críticas por suas denúncias às condições da penitenciária em Evin e por expressar apoio aos protestos.

Em dezembro ela publicou uma carta aberta da prisão para denunciar os abusos sexuais sofridos pelas detentas e tornar público casos de estupro durante interrogatórios.

"As mulheres mostraram que são as vozes da mudança, da liberdade e da igualdade. Uma das razões pelas quais Narges ainda está na prisão é que as autoridades a temem. Isso as deixa arrepiadas", diz Ramsey.

Sepideh Gholian, que cumpre pena de cinco anos por apoiar uma greve, descreveu em carta publicada pela BBC em janeiro os métodos usados para extrair confissões durante interrogatórios forçados, durante os quais gritos são ouvidos em toda a prisão.

"Hoje, os gritos que ouvimos (...) em todo o Irã são mais altos que os gritos das salas de interrogatório, é o som da revolução, o som da verdade: 'Mulher. Vida. Liberdade'", escreveu ela em referência ao slogan entoado nos protestos.