Apenas 36% do 1,25 bilhão de habitantes dos 46 Estados conhecidos como Países Menos Avançados (PMA) conseguem conectar um computador à internet, segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT). Na Europa, mais de 90% da população pode fazê-lo.
Gigantes digitais, como Microsoft e Starlink, propõem soluções para aliviar essa falta de conexão. O "abismo digital" aumentou na última década, constatou a UIT, paralelamente a uma reunião de cúpula dos PMA no Catar.
O tópico se tornou um dos principais temas do encontro, uma vez que o acesso à internet também representa acesso ao conhecimento, aos mercados e às oportunidades.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, denunciou ontem que os países são "esquecidos pela revolução digital" e ficam "privados do suporte tecnológico de que necessitam".
Na República Democrática do Congo, cuja área é quatro vezes maior que a da Alemanha, apenas um quarto da população está conectada. A conexão é relativamente boa em Kinshasa e em outras cidades grandes, mas uma vasta parte do país - onde ocorrem combates entre grupos rebeldes - continua sendo um deserto digital.
- Redução de custos -
Durante a reunião em Doha, várias empresas afirmaram que têm parte da solução. Uma delas, a Microsoft, prometeu fornecer acesso à internet para 100 milhões de africanos até 2025.
A empresa americana anunciou o lançamento da primeira fase em dezembro, com 5 milhões de pessoas conectadas por satélites de órbita baixa do grupo Viasat. Outros 20 milhões passarão pelo especialista africano em telecomunicações Liquid Intelligent Technologies.
O presidente da Microsoft, Brad Smith, explicou à AFP que essas previsões são possíveis por conta de "os custos tecnológicos terem diminuído de forma substancial e continuarem assim". "Podemos ter acesso a muito mais pessoas do que há cinco, dez ou 15 anos com as tecnologias de linha fixa", acrescentou.
A Starlink, do multimilionário Elon Musk, dispõe de milhares de satélites colocados em órbita por sua empresa SpaceX, entre 500 e 700 km de distância da Terra.
"Somos otimistas em relação ao que a tecnologia digital pode fazer pelo desenvolvimento", enfatizou o dono da Microsoft, embora tenha admitido que o setor privado continua "com pouco investimento e desenvolvimento" nos PMA.
A Liquid Intelligent, por sua vez, afirma dispor de cerca de 100.000 km de fibra terrestre no continente e de uma rede sólida de satélites.
"Em áreas remotas, o satélite costuma ser a única tecnologia, ou a mais confiável, para uma banda larga rápida que funcione o tempo todo", ressaltou Nic Rudnick, vice-presidente da Liquid Intelligent.
DOHA