Quando era cardeal e bispo de Cracóvia, Karol Wojtyla soube de atos de pedofilia cometidos em sua diocese por padres, que transferiu de paróquia para evitar um escândalo, informou o autor da investigação, Michal Gutowski.
Um dos padres foi enviado pelo futuro Papa para a Áustria. Wojtyla escreveu uma carta de recomendação ao cardeal de Viena, Franz König, sem informá-lo sobre as acusações contra o pároco.
Para a investigação, Gutowski se reuniu com vítimas dos padres pedófilos, familiares e ex-funcionários da diocese. O jornalista também cita documentos da antiga polícia secreta comunista SB e arquivos da Igreja aos quais teve acesso, apesar de destacar que a diocese de Cracóvia lhe negou acesso a seus arquivos de documentos.
Uma testemunha, que não quis ser identificada, confirma na reportagem que informou pessoalmente o cardeal Wojtyla sobre os atos de pedofilia cometidos por um padre em 1973.
"Wojtyla queria, primeiramente, ter certeza de que não se tratava de um blefe. Pediu que nenhuma parte fosse informada, e disse que se encarregaria do assunto", declarou o homem, acrescentando que o cardeal lhe perguntou explicitamente se seria possível manter o assunto em sigilo.
"O que você descobriu é revolucionário, porque mostra o que muita gente suspeitava há anos: que João Paulo II sabia que o problema existia antes mesmo de se tornar Papa", diz na reportagem o americano Thomas Doyle, ex-padre católico, especialista em direito canônico e autor de um dos primeiros relatórios sobre os abusos do clero católico nos Estados Unidos.
Um livro escrito pelo jornalista holandês Ekke Overbeek, intitulado "Máxima culpa", será lançado nesta semana na Polônia, contendo acusações semelhantes contra Karol Wojtyla.
A imprensa revelou vários casos de pedofilia dentro da Igreja polonesa nos últimos anos. O Vaticano puniu altos cargos religiosos poloneses após essas informações.