O banco, que trabalha com o setor tecnológico desde a década de 1980, ficou, surpreendentemente, sem liquidez. O Departamento de Proteção Financeira e Inovação da Califórnia (DFPI) fechou o SVB e nomeou a Corporação Federal de Seguro de Depósitos (FDIC) como depositária dos fundos do banco, informou a agência federal nesta sexta-feira.
O DFPI "tomou posse do Silicon Valley Bank, alegando liquidez inadequada e insolvência", assinalou a agência californiana. As 17 agências do banco reabrirão na segunda-feira sob o controle de uma nova entidade, criada especificamente pela FDIC para administrar as operações da instituição.
A curto prazo, os clientes poderão sacar até US$ 250.000 (cerca de R$ 1,3 milhão). Os clientes com mais dinheiro no banco, que são a grande maioria, foram convidados a entrar em contato com a FDIC.
O SVB é a primeira instituição com depósitos garantidos pela corporação federal a quebrar desde 2020, segundo a FDIC. Trata-se, também, da maior falência bancária nos Estados Unidos desde a crise de 2008 em volume de ativos.
A situação gera temor entre os investidores de que outros bancos possam ter problemas, em meio à escalada dos juros para conter a inflação. A decisão das autoridades protege o patrimônio dos clientes e permite ganhar tempo, a fim de encontrar potenciais compradores para os ativos da entidade em falência.
- Banco das tecnológicas -
O Silicon Valley Bank (SVB) era um banco californiano especializado no setor de tecnologia que tinha negócios principalmente com fundos que investem em empresas não negociadas em bolsa. Pouco conhecido do público, era o 16º banco americano em tamanho de ativos.
A instituição, que operava em Estados Unidos, Europa, Ásia e Israel, oferecia serviços financeiros, entre outros, para start-ups, desde contas bancárias até assessoria.
O SVB sofreu com a deterioração do setor: a alta brusca dos juros nos Estados Unidos, que afeta um ramo altamente dependente de financiamento para crescer, somada às dificuldades de fornecimento de semicondutores e ao apetite fraco dos investidores pelas ações de tecnologia, marcam o fim da euforia tecnológica pós-pandemia.
O pânico teve início depois que o controlador do banco, SVB Financial Group, anunciou que tentaria levantar US$ 2,25 bilhões (R$ 12,9 bilhões). O grupo vendeu rapidamente um portfólio de US$ 21 bilhões (R$ 109 bilhões) em títulos financeiros, com um prejuízo estimado de US$ 1,8 bilhão (R$ 9,3 bilhões).
O SVB buscava fortalecer suas finanças, enfraquecidas pelas retiradas de clientes. Segundo o canal especializado em economia CNBC, o banco não conseguiu obter o capital necessário e negociava a sua venda para outra instituição bancária antes do anúncio das entidades reguladoras.
- Surpresa -
As dificuldades do SVB ultrapassaram as fronteiras do país e sacudiram o setor bancário mundial, que foi pego de surpresa. No fim de 2022, o banco tinha US$ 209 bilhões (mais de 1 trilhão de reais) em ativos e US$ 175,4 bilhões (cerca de R$ 900 bilhões) em depósitos, segundo autoridades.
A secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, reuniu-se nesta sexta-feira com reguladores financeiros para discutir a situação do SVB e declarou que o sistema bancário "continua sendo resiliente e os reguladores têm ferramentas eficazes para resolver este tipo de evento", segundo um comunicado do Departamento do Tesouro.
Os quatro maiores bancos dos Estados Unidos perderam US$ 52 bilhões (cerca de 270 bilhões de reais) ontem no mercado de ações, e o movimento também afetou bancos asiáticos e europeus, que registraram fortes prejuízos em capitalização de mercado.
As dificuldades do SVB coincidiram com o anúncio, nesta semana, da liquidação do Silvergate Bank, instituição bancária particularmente ativa no setor atribulado das criptomoedas.
Desde a crise financeira de 2008-2009 e a quebra do Lehman Brothers, os bancos são submetidos a provas de resistência periódicas e têm que dar garantias aos reguladores de sua capacidade de resposta a situações de estresse.