"Digo aos parlamentares: Não votem esta lei, está desconectada da realidade concreta do trabalho", pediu Laurent Berger, líder do sindicato reformista CFDT, durante uma manifestação em Paris.
O oitavo dia de protestos, convocado pelos sindicatos, coincidiu com a reunião entre sete deputados e sete senadores, que chegaram a um consenso sobre o texto único sobre a reforma, um passo fundamental para sua possível aprovação nesta quinta-feira.
Dois em cada três franceses se opõem ao plano de Macron de adiar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e antecipar para 2027 a exigência de contribuir com 43 anos (e não 42, como atualmente) para receber uma aposentadoria completa.
"Penalizar com mais dois anos de trabalho é grave quando você sabe que muitos empregos são difíceis e muitas pessoas estão desempregadas", disse à AFP Cécile Ouedraogo, uma aposentada que protestava em Bordeaux (sudoeste).
Embora a rejeição majoritária à reforma permaneça intacta desde seu anúncio em janeiro, os protestos parecem perder força. 480.000 pessoas se manifestaram nesta quarta na França, segundo a polícia (1,7 milhão, de acordo com o sindicato)
Este número está longe do 1,28 milhão de pessoas que, segundo as forças de segurança, foram às ruas em 7 de março (3,5 milhões, segundo o sindicato CGT), no maior protesto contra uma reforma social nas três últimas décadas.
Lançadas na semana passada pelos sindicatos, as greves prorrogáveis em setores-chave, como energia e transporte, também estão diminuindo. O principal ponto de tensão com o governo são as 7.600 toneladas de lixo acumuladas em Paris.
A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, negou-se hoje a requisitar a equipe municipal de coleta de lixo, como lhe pedia o governo, ao avaliar que é competência do Estado e ao defender a reivindicação "legítima" dos garis.
- Haverá maioria? -
Apesar das semanas de protestos, o governo se mantém firme em seu plano que busca evitar, em sua opinião, um déficit futuro no fundo de pensões. A maioria dos franceses acredita que o plano será aplicado, segundo pesquisas.
Porém, para além do projeto, Macron, reeleito há quase um ano com a promessa de reformar a segunda economia da União Europeia (UE) corre o risco de poder aplicar seu programa durante seu segundo mandato, que ocorre até 2027.
Paira, no entanto, a incerteza sobre se o projeto de lei resultante obterá a maioria necessária na quinta-feira na Assembleia Nacional (câmara baixa). O Senado também deve dar sua aprovação final nesse mesmo dia.
Os principais líderes sindicais devem se concentrar amanhã diante da Assembleia, para um último chamado aos legisladores.
O governo procurou garantir "uma maioria natural", nas palavras do seu porta-voz, Olivier Véran, com a oposição de direita dos Republicanos, respondendo às garantias solicitadas para quem começou a trabalhar antes dos 21 anos.
"No meu grupo, como no da maioria (governista), há deputados que não desejam aprovar esta reforma", advertiu, no entanto, Olivier Marleix, um dos líderes do Les Republicains (LR) na Assembleia. E cada voto conta.
O presidente convocou à noite a sua primeira-ministra, Élizabeth Borne, e a alguns de seus ministros para se assegurar que a reforma pode ser submetida à votação dos deputados e evitar assim ativar outro polêmico procedimento parlamentar, segundo seu entorno.
Conhecida como 49.3, esta medida permite que o governo aprove o trâmite na Assembleia sem submeter a reforma à votação. A única forma de impedir sua adoção é os deputados apresentarem e aprovarem uma moção de censura contra o governo.
Seu uso deixaria a tensão ainda mais alta, principalmente quando opositores começam a refletir sobre os próximos passos em caso de adoção da reforma e a exigência de um referendo cidadão surge como um próximo objetivo.
PARIS