Esse "esqueleto" de ferro foi usado desde o início da construção, a partir do ano de 1160.
Um século depois, com o templo praticamente concluído, Notre-Dame se tornou o edifício construído mais alto do seu tempo, com uma abóbada que culmina nos 32 metros, segundo um estudo publicado na revista PLOS da Academia Americana de Ciências.
"Ainda não se sabe muito bem como seus construtores ousaram e conseguiram elevar essas paredes a tais alturas", disse à AFP o arqueólogo Maxime L'Héritier, principal autor do estudo.
A documentação da época é "realmente muito escassa", por isso "apenas o monumento pode falar", explica este professor da Universidade de Paris-8.
O incêndio de 15 de abril de 2019 expôs o uso maciço de grampos de ferro forjado. Alguns apareceram após o colapso da estrutura de madeira do telhado. Outros caíram quando algumas pedras cederam no calor do incêndio.
O colossal trabalho de reconstrução do telhado foi a ocasião ideal para confirmar essas descobertas.
- Os primeiros construtores -
A catedral poder conter mais de mil grampos, de todos os tamanhos, entre 25 cm e 50 cm de comprimento. Em alguns casos, pesam vários quilos.
Sua função é manter a estrutura dos silhares da nave do templo, das colunas do coro, das pedras das paredes das tribunas superiores, ou dos elementos que decoram as cornijas.
"É a primeira vez que o ferro é usado maciçamente em uma catedral gótica, em locais muito específicos", disse o arqueólogo.
O estudo lembra que o uso de grampos é conhecido desde a Antiguidade, desde os templos gregos até o Coliseu de Roma.
Mas, nesses casos, foram usados apenas para os grandes silhares na base, sobre os quais foram erguidos os andares superiores.
Notre-Dame supõe uma "concepção de arquitetura muito mais dinâmica, na qual se leva em consideração o movimento das estruturas e as forças que são exercidas em todas as direções", explica L'Héritier.
Os primeiros construtores usaram os grampos nas paredes das naves laterais do templo em 1160. Esse uso continuou nas partes superiores, por mais de 50 anos. Mais tarde, a técnica caiu em desuso.
Mais de 200 especialistas de diversas áreas passam todos os dias pelo templo parisiense, que deve reabrir ao público em 2024, após os Jogos Olímpicos.