"Assinamos uma declaração que reforça nossa associação estratégica e nossas relações, que entram em uma nova era", declarou o presidente chinês, Xi Jiping, após se reunir em Moscou com seu contraparte russo, Vladimir Putin.
Após a cúpula, Putin expressou um apoio tímido às propostas chinesas para encontrar uma solução negociada ao conflito na Ucrânia, que começou há quase três meses com a entrada das forças russas no país vizinho.
No entanto, o presidente russo criticou os países ocidentais e a Ucrânia pela falta de uma resposta de Kiev a essas propostas, que incluem um apelo ao diálogo e respeito à soberania territorial de todos os países.
"Diversos pontos do plano de paz da China (...) podem servir de base para uma solução pacífica, assim que o Ocidente e Kiev estiverem dispostos a isso. Mas não vemos no momento essa disposição", declarou o mandatário russo.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou que convidou a China para participar dos diálogos de paz e que segue esperando "uma resposta".
Os analistas, porém, consideram difícil que a China, que recentemente mediou a reconciliação diplomática entre Arábia Saudita e Irã, consiga o fim das hostilidades na Ucrânia.
Em resposta aos questionamentos apresentados por Moscou e Pequim, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que os Estados Unidos não acreditam "que a China possa ser considerada razoavelmente imparcial de forma alguma".
- Primeiro-ministro japonês em Kiev -
Zelensky anunciou que participará em maio por videoconferência da cúpula de potências ocidentais do G7 na cidade japonesa de Hiroshima, a convite do primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, que nesta terça-feira esteve pessoalmente em Kiev.
Pouco depois de chegar ao país, Kishida visitou a cidade de Bucha, nas proximidades da capital, símbolo das atrocidades da ocupação russa.
"Ao pisar em Bucha e ser testemunha de todas as brutalidades que foram cometidas lá, sinto uma forte indignação", disse o premiê japonês.
- "Preocupação" com a Ásia -
A declaração de Moscou destaca que Rússia e China "estão muito preocupadas com o crescente fortalecimento dos vínculos entre a Otan e os países da região Ásia-Pacífico em questões militares e de segurança", e acusa a Aliança Atlântica de "fragilizar a paz e estabilidade regionais".
Também denuncia "a influência negativa da estratégia dos Estados Unidos, guiada por uma mentalidade de Guerra Fria (...) sobre a paz e a estabilidade na região".
A China já havia denunciado na semana passada o "caminho errôneo e perigoso" aberto pelo acordo assinado pela Austrália com os Estados Unidos e o Reino Unido (AUKUS) com a compra de submarinos movidos a energia nuclear.
- Acordo energético -
Após o encontro com Xi, Putin anunciou que ambos os países alcançaram um acordo para construir um gigantesco gasoduto que levará gás da região siberiana até o noroeste da China, um projeto conhecido como Força da Sibéria 2.
Segundo Putin, quando o gasoduto entrar em operação, poderá encaminhar "50 bilhões de metros cúbicos de gás" para o gigante asiático.
A Rússia - sob sanções ocidentais pela ofensiva na Ucrânia - busca reorientar a produção de hidrocarbonetos russos e a demanda de energia do gigante asiático, segunda maior economia do mundo, parece oferecer excelentes perspectivas.
-Apoio a Putin, procurado pelo TPI -
A visita de Xi a Moscou também é um endosso pessoal a Putin, alvo de uma ordem de detenção emitida na semana passada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) sob a acusação de deportação ilegal de crianças ucranianas, o que é considerado crime de guerra.
Xi disse que convidou seu homólogo russo para a China "este ano, quando puder".
Putin assegurou que ambos os países têm "muitos objetivos em comum" e elogiou a China por sua "posição justa e equilibrada nas questões internacionais mais urgentes".
De sua parte, Xi declarou que a China está "pronta para ficar firmemente ao lado da Rússia" em nome do "verdadeiro multilateralismo".
Moscou e Pequim fortaleceram sua cooperação nos últimos anos, unidas pelo desejo de combater a influência americana no cenário internacional.
MOSCOU