Jornal Estado de Minas

SÃO PAULO

Banco Central manterá Selic em 13,75%, aponta mercado

O Banco Central (BC) manterá nesta quarta-feira a Selic em 13,75%, um nível invariável desde agosto, para conter a inflação, aponta o mercado, apesar da pressão do governo por uma redução dos juros.



O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC divulgará sua decisão ao finalizar sua segunda reunião do ano, que começa nesta terça-feira.

A aposta do mercado é que a autoridade monetária não altere a taxa Selic pela quinta vez consecutiva, conforme o consenso de mais de 100 consultoras e instituições financeiras sondadas pelo jornal Valor Econômico.

O índice atual da taxa, 13,75%, é o mais alto desde janeiro de 2017 e um dos mais altos do mundo. Foi congelado em agosto de 2022, após um ciclo de altas iniciado em março de 2021, quando atingiu o piso recorde de 2% para estimular a economia, em meio à pandemia da covid-19.

Após a crise sanitária, o BC tentou conter a inflação, impulsionada também pela invasão da Rússia à Ucrânia. Por vários meses, o indicador anual ficou em dois dígitos.

Os preços crescem agora em um ritmo mais lento - a inflação no varejo acumulou 5,6% em 12 meses até fevereiro -, mas continuam sendo o principal argumento do Copom para manter a taxa elevada.



Essa política foi duramente criticada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou nesta terça-feira de "absurdo" o nível da Selic enquanto "o desemprego está crescendo e pessoas estão passando fome", em entrevista à TV 247.

Em colóquio no Rio de Janeiro na segunda-feira (20), o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, insistiu em que a taxa de 13,75% "dificulta o consumo" e "atrasa o investimento".

Esse nível é capaz de "matar qualquer economia", enfatizou no mesmo evento o americano ganhador do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz.

O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,9% em 2022 face ao ano anterior, após uma queda no último trimestre (-0,2%), pressionado pelas taxas de juros.

Para 2023, a expectativa é de expansão de apenas 0,88%, segundo a última pesquisa Focus do BC.

- Controle fiscal e crise bancária -

A expectativa de inflação para o final do ano é de 5,85%, acrescenta a pesquisa. Esta projeção supera a meta da entidade de 3,25%, com margem de ponto percentual. Se confirmada, será o terceiro ano consecutivo que o valor fica acima da meta.



O Copom "não hesitará em retomar o ciclo de ajuste", caso o processo de desinflação não ocorra conforme o esperado, indicou em sua reunião anterior, no final de janeiro.

Destacou-se, ainda, uma "alta incerteza" na esfera fiscal. O mercado teme que gastos públicos descontrolados aumentem o endividamento e afetem a saúde da economia brasileira.

O governo tentará amenizar essas preocupações com uma nova estrutura de controle fiscal para substituir a que fixava um teto para os gastos públicos, vigente até agora.

O Copom também irá avaliar as complicações no contexto externo, após a eclosão de uma crise bancária nos Estados Unidos que se estendeu às instituições suíças.

Paralelamente à reunião do Copom, a Central Única dos Trabajadores convocou para esta terça-feira uma manifestação em todo o país para exigir um corte na taxa de juros, que "impede a geração de empregos".

Dezenas de pessoas saíram em passeata pela Avenida Paulista, e outros grupos de manifestantes se reuniram em frente à sede do BC em Brasília e outras cidades do país.