Jornal Estado de Minas

BOGOTÁ

ELN mata nove militares em ataque na Colômbia

Nove soldados morreram na Colômbia no ataque mais letal da guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) desde o início dos diálogos de paz com o governo em novembro passado - informaram o presidente Gustavo Petro e o Exército nesta quarta-feira (29).



"De maneira preliminar, nos informam sobre o assassinato de 9 dos nossos soldados" em El Carmen, departamento de Norte de Santander (nordeste), afirmou o Exército em mensagem enviada à imprensa, na qual atribuiu o atentado ao ELN.

No Twitter, o presidente manifestou seu "total repúdio" ao episódio. Sem fazer referência ao ELN, Petro garantiu que os militares foram vítimas "daqueles que hoje estão absolutamente longe da paz e do povo".

De acordo com o governo de Norte de Santander, departamento que faz fronteira com a Venezuela, oito militares ficaram feridos.

O comandante das Forças Armadas, general Helder Giraldo, garantiu que seus homens manterão "operações militares na área contra os responsáveis" pelos assassinatos.

A maioria dos soldados mortos era composta de jovens que prestavam serviço militar obrigatório, em torno dos 20 anos de idade.

- O mais letal -

A organização guerrilheira dialoga com enviados de Petro desde novembro para pôr fim a seu levante armado de quase seis décadas de duração.



As negociações começaram em Caracas. Em março, tiveram um segundo ciclo de negociações na Cidade do México, mas sem chegar a um acordo de cessar-fogo.

Em janeiro, as partes viveram seu momento mais tenso, quando os rebeldes negaram fazer uma trégua bilateral com os principais grupos armados do país anunciada por Petro na véspera de Ano Novo.

As hostilidades continuaram, e o Exército denuncia, constantemente, sequestros e ataques com explosivos que deixam vários mortos e feridos.

O atentado desta quarta-feira foi o que mais deixou vítimas desde que o presidente Petro assumiu o poder em agosto de 2022.

Em setembro, dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que não aceitaram o acordo de paz de 2016 mataram sete policiais no departamento de Huila, no centro do país.

- "Entrega do país" -

O ELN teve negociações infrutíferas com cinco governos. Petro retomou os diálogos de paz que acabaram sendo concluídos sem sucesso com seu antecessor Iván Duque (2018-2022), devido a um ataque a uma escola militar em Bogotá, em 2019. Nele, 23 morreram, incluindo o agressor.



O direitista Duque decidiu, então, enterrar as conversas em curso e fechou as portas para novas aproximações até que o ELN cessasse as hostilidades contra as forças públicas e deixasse o tráfico de drogas de lado.

Historicamente, os rebeldes relutam em desativar suas operações como sinal de sua vontade de paz. Em fevereiro, Petro descreveu a retenção de um sargento no departamento de Arauca (leste) como "sabotagem" aos diálogos.

Primeiro presidente da esquerda no poder na Colômbia, Petro quer dar um fim aos conflitos sob a política de "Paz total". O processo avança com dificuldades no maior produção mundial de cocaína, droga que é a principal fonte de financiamento dos grupos armados que atuam no país.

O Clã do Golfo, a maior quadrilha de drogas da Colômbia, também fez parte da trégua, que acabou sendo suspensa pelo governo em 18 de março, na esteira dos ataques à população civil e aos militares.

A oposição critica o presidente pelas concessões que tem feito aos grupos irregulares e pela ordem dada aos militares para cessarem as operações ofensivas.

"Um Governo entregue ao Narcotráfico e a todas as organizações criminosas (...) A 'Paz Total' não pode significar a entrega do país", afirmou o ex-candidato presidencial de direita Federico Gutiérrez, hoje, no Twitter.

O terceiro ciclo de negociações entre o governo colombiano e o ELN será realizado em Cuba, embora as partes não tenham especificado sua data.

Havana foi sede das negociações que levaram à desmobilização das Farc, em 2016, durante anos a maior guerrilha do país.