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Estado de Minas BOGOTÁ

Presidente da Colômbia convoca negociadores de paz a examinar ataque letal do ELN


29/03/2023 15:03

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, convocou, nesta quarta-feira (29), os negociadores de paz com o ELN a "examinar" o "grave" ataque da guerrilha, que deixou nove militares mortos e outros nove feridos.

Os soldados estavam em uma região da fronteira com a Venezuela, vigiando o oleoduto Caño Limón Coveñas, o mais importante do país e alvo do Exército de Libertação Nacional (ELN), quando foram atacados pelos rebeldes, segundo a versão oficial que não traz mais detalhes.

Petro "chamou a conversas para examinar este, que é um fato realmente muito grave", em meio às negociações de paz, declarou o ministro da Defesa, Iván Velásquez.

Pelo Twitter, Petro manifestou seu "repúdio total" ao atentado, ocorrido em El Carmen, departamento (estado) de Norte de Santander, e convocou para "consulta a delegação do governo na mesa do ELN, países avalistas e acompanhantes".

"Um processo de Paz deve ser sério e responsável com a sociedade colombiana", acrescentou.

Na mesma linha, o conselheiro presidencial de paz, Danilo Rueda, assegurou que com fatos como estes, o ELN está "se esquivando da construção da paz na Colômbia".

Consultado por jornalistas, Rueda não descartou suspender as negociações de paz, iniciadas em novembro. "Ali, na decisão interna, construída entre todos, serão tomadas as decisões saudáveis para o país", afirmou.

A maioria dos soldados mortos era composta de jovens que prestavam o serviço militar obrigatório, em torno dos 20 anos de idade.

A pressão militar sobre os guerrilheiros será mantida na região, anunciou o exército.

Este último ataque põe na corda bamba a sexta tentativa de um governo colombiano de negociar o desarmamento dessa poderosa organização guerrilheira guevarista, que no próximo ano completará 60 anos de guerra contra o Estado.

- "Criminosos e estúpidos" -

As negociações de paz com o ELN começaram em Caracas e continuaram em um segundo ciclo na Cidade do México, mas sem chegar a um acordo de cessar-fogo.

Em janeiro, as partes viveram seu momento mais tenso, quando os rebeldes se negaram a participar de uma trégua bilateral com os principais grupos armados do país, anunciada por Petro na véspera do Ano Novo.

As hostilidades continuaram e o Exército denuncia, constantemente, sequestros e ataques com explosivos que deixam vários mortos e feridos.

O atentado desta quarta-feira foi o que mais deixou vítimas desde que o presidente Petro assumiu o poder, em agosto de 2022.

Sem fazer alusão ao ELN, o presidente assegurou que os militares foram vítimas dos "que hoje estão absolutamente afastados da paz e do povo".

Em setembro, dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que não aceitaram o acordo de paz de 2016 mataram sete policiais no departamento de Huila, no centro do país.

Otty Patiño, negociador do governo com o ELN, disse à W Rádio que esses "atos criminosos e estúpidos" lançam dúvidas sobre a unidade de comando da guerrilha.

"(Pergunto-me) se estamos falando com quem manda, ou pelo menos é cúmplice desse tipo de ação", questionou o também companheiro de armas de Petro na extinta guerrilha M-19.

- "Entrega do país" -

O ELN teve negociações infrutíferas com cinco governos. Petro retomou os diálogos de paz, que acabaram sendo concluídos sem sucesso com seu antecessor, o direitista Iván Duque (2018-2022), devido a um ataque a uma escola militar em Bogotá, em 2019. Nele, 23 pessoas morreram, incluindo o agressor.

Duque manteve a guerra contra os rebeldes e condicionou as negociações ao cessar das hostilidades contra as forças públicas, o fim dos sequestros e do narcotráfico.

Sob sua política de "Paz Total", Petro aposta em uma saída negociada com todos os grupos armados para desativar meio século de conflito interno.

Historicamente, os rebeldes relutam em desativar suas operações como sinal de sua vontade de paz. Em fevereiro, Petro descreveu a retenção de um sargento no departamento de Arauca (leste) como "sabotagem" aos diálogos.

O Clã do Golfo, a maior quadrilha de tráfico de drogas da Colômbia, também fez parte da trégua, que acabou sendo suspensa pelo governo em 18 de março, na esteira dos ataques contra a população civil e os militares.

A oposição critica o presidente pelas concessões que tem feito aos grupos irregulares e pela ordem dada aos militares para cessarem as operações ofensivas.

"Um Governo entregue ao Narcotráfico e a todas as organizações criminosas (...) A 'Paz Total' não pode significar a entrega do país", afirmou nesta quarta-feira, pelo Twitter, o ex-candidato presidencial de direita Federico Gutiérrez.

O terceiro ciclo de negociações entre o governo colombiano e o ELN será realizado em Cuba, embora as partes não tenham especificado sua data.

Havana foi sede das negociações que levaram à desmobilização das Farc, em 2016, durante anos a maior guerrilha do país.


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