Jornal Estado de Minas

ROLLING FORK

Bênção ou tiro pela culatra? Indiciamento de Trump traz riscos políticos para Biden

"Sem comentários": o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, quer se manter longe dos problemas legais de seu antecessor, Donald Trump, consciente de que terá que se mover com sutileza se quiser tirar proveito do indiciamento de seu adversário em potencial nas presidenciais de 2024.



O presidente, que ainda não se candidatou oficialmente à reeleição, sabe que qualquer comentário sobre o indiciamento de Trump poderia alimentar o argumento do republicano de que é vítima de um uso político da justiça.

Com seu silêncio, o presidente democrata também tenta não desafazer a imagem que busca transmitir: a de um chefe de Estado concentrado em seu trabalho, que foi consolar, nesta sexta-feira (31), os moradores de uma cidade do Mississipi (sul), devastada por um tornado.

Antes de viajar, Biden parou para atender os jornalistas que o aguardavam nos jardins da Casa Branca. Poderia ter embarcado diretamente em seu helicóptero, como costuma fazer, mas quis deixar muito claro que não diria nada a respeito.

"Não tenho comentários", "não vou falar sobre a acusação de Trump", "não tenho comentários sobre Trump", disse Biden.

Em uma situação sem precedentes para um ex-presidente americano, Trump foi indiciado criminalmente na quinta-feira em um caso vinculado à compra do silêncio da atriz pornô Stormy Daniels antes das eleições presidenciais de 2016.

- 'Tela dividida' -

A Casa Branca "não quer atiçar o debate político" sobre esta acusação histórica, afirmou, na quinta-feira, a ex-porta-voz do presidente Jen Psaki, ao canal MSNBC.



Biden aposta no que se conhece nos Estados Unidos como o efeito da "tela dividida": de um lado, um chefe de Estado que trabalha; do outro, um ex-presidente paralisado por problemas judiciais.

Nesta sexta, Trump denunciou uma "caça às bruxas" ao comentar o caso em sua luxuosa residência em Mar-a-Lago, na Flórida.

Enquanto isso, Biden circulava, usando um boné com o brasão presidencial, entre casas desmoronadas e árvores caídas em Rolling Fork, devastada por um tornado mortal.

Nesta cidade modesta e com população predominantemente negra, o presidente, assumindo um papel no qual se sente confortável, dirigiu palavras de consolo e promessas de ajuda para a reconstrução.

"Vocês construíram suas vidas aqui. Nós vamos garantir que possam permanecer", disse Biden.

Outro exemplo ocorrerá na próxima semana. Na segunda-feira, Biden deve viajar a Minneapolis (Minnesota, norte) para explicar "como sua política econômica criou a maior alta de empregos da história" e atraiu investidores, segundo um comunicado da Casa Branca.



No dia seguinte, Trump deve se apresentar a um tribunal de Nova York, onde terá coletadas suas impressões digitais, será lida uma ata de indiciamento e terá tirada uma foto para sua ficha policial.

- 'Sortudo' -

O indiciamento de Trump, que não o impede de fazer campanha, nem de se candidatar às eleições presidenciais de 2024, pode ter um efeito mobilizador em seu próprio grupo, e ajudá-lo a arrecadar fundos.

Na quinta-feira, vários nomes da direita americana, incluindo o governador da Flórida, Ron DeSantis, considerado adversário de Trump, uniram fileiras atrás do bilionário.

Mas uma vitória fácil de Trump nas primárias republicanas pode ser conveniente para Biden.

"Terei muita sorte se enfrentar o mesmo homem na próxima eleição", disse Biden há cerca de um ano.

Uma pesquisa recente da Faculdade de Direito da Universidade de Marquette mostrou Biden empatado com Trump nas intenções de voto, com 38% cada.

Resta saber o que acontecerá com os independentes e indecisos. Nas últimas semanas, Biden cortejou-os com argumentos sobre o custo de vida e a defesa dos seguros de saúde que, segundo ele, os republicanos querem desmontar.

Uma pesquisa da Universidade Quinnipiac divulgada na quinta-feira indica que 68% dos americanos se preocupam com seu padrão de vida após a aposentadoria.