Jornal Estado de Minas

WASHINGTON

Trump, 'chocado', mas disposto a 'lutar' após ser indiciado

Os advogados de Donald Trump passaram à ofensiva, nesta sexta-feira (31), após o histórico indiciamento de seu cliente, ao advertir que o ex-presidente americano descarta um acordo com a promotoria e que "vai lutar" contra todas as acusações, em seu caminho para as eleições presidenciais de 2024.



Um grande júri do estado de Nova York apresentou acusações criminais contra Trump por ter pago, em dinheiro, 130 mil dólares (R$ 420 mil em valores da época) à atriz pornô Stormy Daniels para comprar o silêncio dela durante a campanha para as presidenciais de 2016.

Segundo seus advogados, o ex-presidente, que se encontra em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida, vai se entregar na terça-feira às autoridades de Nova York para responder às acusações, que são mantidas em segredo.

Trump, de 76 anos, será detido e terá que passar pelo que nenhum outro ex-presidente dos Estados Unidos passou: a coleta de suas impressões digitais e ter uma foto tirada para sua ficha policial.

"O presidente não será algemado", disse Joe Tacopina, um de seus advogados, que não acredita que os promotores permitam "que isto se torne um circo".

Tacopina afirmou que o caso apresentado pelo promotor distrital de Manhattan, o democrata Alvin Bragg, apresenta "desafios legais substanciais" e que o presidente vai se declarar inocente.



Há "zero" possibilidades de que aceite um acordo de culpa, antecipou Tacopina. "Isso não vai acontecer. Não há delito".

O indiciamento, na quinta-feira, deixou Trump "chocado", disse seu advogado, mas ele agora está "disposto a lutar".

- "Caça às bruxas" -

Trump nega ter violado a lei e acusa o promotor distrital, que é democrata, de lançar uma "caça às bruxas política".

"INTERFERÊNCIA ELEITORAL, PARÓDIA DE JULGAMENTO!", postou Trump em sua rede social Truth Social. "Ele me odeia", acrescentou, em alusão a Juan Manuel Marchal, o juiz que poderia conduzir um eventual julgamento.

O objetivo, segundo ele, é impedir que o Partido Republicano o indique como candidato à Casa Branca em um momento em que é o franco favorito, embora pareça ter perdido a capacidade de mobilização e o brilho do passado.

O próprio Trump antecipou, há alguns dias, seu indiciamento e convocou protestos, alertando que poderiam resultar em "morte e destruição em potencial" no país.

De imediato, a segurança foi reforçada na corte do centro de Manhattan, onde se espera que Trump seja processado.



- "Vergonhoso" -

"Só apresentaram esta acusação falsa, corrupta e vergonhosa contra mim porque apoio o povo americano e sabem que não posso ter um julgamento justo em Nova York!", escreveu Trump em sua plataforma de redes socais Truth Social.

Trump sabe que é um sobrevivente político nato. Enquanto esteve na Casa Branca, escapou de dois julgamentos políticos e parece se esquivar de outras causas judiciais em que se envolveu, como o ataque ao Capitólio, sede do Congresso, por uma multidão de seus apoiadores em janeiro de 2021, o desaparecimento de arquivos secretos da Casa Branca ou as supostas pressões a um funcionário do estado da Geórgia para favorecê-lo durante as eleições de 2020.

Da série de casos contra ele, foi finalmente o escândalo sexual com a atriz de cinema pornô Stormy Daniels, de 44 anos, que acabou cobrando seu preço.

Seu Partido Republicano, no qual nunca deixou de ter influência, parece se solidarizar com ele.



Kevin McCarthy, presidente da Câmara de Representantes, avaliou que o indiciamento "prejudicou irremediavelmente" o país, enquanto seu ex-vice-presidente e possível adversário para 2024, Mike Pence, o tachou de "ultraje", que "dividirá ainda mais" os Estados Unidos.

É "antiamericano", disse, por sua vez, o governador da Flórida, Ron DeSantis, outro possível adversário.

O presidente democrata, Joe Biden, que o derrotou nas urnas em 2020, optou pela cautela: "Não tenho nenhum comentário sobre Trump", disse. Mas a ex-presidente da Câmara de Representantes Nancy Pelosi lembrou que "ninguém está acima da lei".

Stormy Daniels declarou sentir-se feliz. Trump "não é mais intocável", declarou ao jornal britânico The Times, dizendo que se sente "orgulhosa".

- Impacto para 2024 -

O ex-advogado de Trump, Michael Cohen, declarou em 2019 que fez o pagamento a Daniels em nome do então candidato à Presidência para ocultar um caso extraconjugal em 2006 e que mais tarde teve o dinheiro devolvido.



O grande júri de Nova York devia se pronunciar se considerava que este acobertamento se destinava a beneficiar sua campanha. Após as deliberações, decidiu indiciá-lo.

Uma acusação como esta poderia arruinar qualquer carreira e desmoralizar qualquer outro político, mas no caso de Trump, os efeitos são imprevisíveis e não está claro que vá prejudicá-lo.

O senador Lindsey Graham, aliado incondicional do ex-presidente, apostou em que o caso aumentará suas chanceles eleitorais.

"De um ponto de vista político, consolidará a posição de Trump no Partido Republicano", disse Graham ao Washington Post.

Do ponto de vista econômico, o impacto já se faz sentir. O magnata presume ter captado 4 milhões de dólares (R$ 20,3 milhões em valores atuais) para sua campanha desde que foi indiciado.