Jornal Estado de Minas

JERUSALÉM

Jerusalém recebe celebrações judaicas, cristãs e muçulmanas em momento de grande tensão

Milhares de fiéis se reuniram neste domingo (9) em Jerusalém, onde coincidem as celebrações da Páscoa cristã, do Pessach judaico e o mês sagrado muçulmano do Ramadã, em plena escalada de violência do conflito entre israelenses e palestinos.



As autoridades israelenses ordenaram uma grande presença policial neste domingo na Cidade Antiga, local de confrontos entre as três religiões, em Jerusalém Oriental, o setor palestino da cidade ocupado e anexado por Israel desde 1967.

A área registra um aumento da violência desde a operação brutal de quarta-feira das forças de segurança israelenses na mesquita de Al-Aqsa de Jerusalém, terceiro local sagrado do islã. A intervenção provocou muitas críticas internacionais e elevou a tensão.

Desde então aconteceram atentados anti-Israel e foguetes foram lançados a partir de Gaza, Líbano e Síria, o que provocou uma resposta do Estado hebreu.

O episódio mais recente da onda de violência aconteceu no sábado à noite, quando o exército israelense bombardeou a Síria, em represália aos foguetes disparados contra as Colinas de Golã, área anexada por Israel.

- "Diálogo" -

O papa Francisco expressou sua "profunda preocupação com os ataques dos últimos dias" e pediu a criação de um "clima de confiança e respeito recíproco, necessário para a retomada do diálogo entre israelenses e palestinos", em sua tradicional bênção "Urbi et Orbi" após a missa de Páscoa.



Em Jerusalém, centenas de fiéis compareceram durante a manhã à missa de Páscoa no Santo Sepulcro, um local sagrado disputado por várias denominações cristãs. Nas capelas contíguas foram celebrados os rituais ortodoxos do Domingo de Ramos.

"Acredito que Jesus e Deus sofrem por estarmos divididos entre cristãos. Mesmo aqui estamos divididos, lamentavelmente, e há muita violência", declarou à AFP a freira Elisabeth, missionária do Chade.

A uma distância relativamente curta, milhares de judeus visitaram o Muro das Lamentações para a tradicional bênção dos Kohanim (sacerdotes).

Esta bênção é celebrada duas vezes por ano no Muro das Lamentações, especialmente durante a Páscoa judaica (Pessach).

"Sinto que Deus vai nos proteger, rezamos todos juntos como um único povo", afirmou à AFP Judy Green, judia de 60 anos.

O Muro das Lamentações, vestígio do antigo templo construído por Herodes, fica em um dos lados da Esplanada das Mesquitas, terceiro lugar sagrado do Islã, erguido no que os judeus chamam de Monte do Templo, o principal lugar sagrado do judaísmo.



Quase 500 judeus religiosos visitaram a Esplanada das Mesquitas durante a manhã de domingo, sob escolta policial, enquanto os fiéis muçulmanos rezavam pelo Ramadã. Não foram registrados confrontos.

Em tese, os judeus não podem entrar no Monte do Templo, por proibição dos rabinos, mas muitos ignoram o veto. As visitas aumentaram nos últimos anos e vários ultranacionalistas judeus rezam em segredo depois de acessar o local como simples visitantes.

- Espiral de violência -

A situação "não é muito boa", declarou na esplanada Mahmud Mansur, um palestino de Jerusalém de 65 anos, ao lamentar que a polícia apoie "todas as manhãs" as visitas de judeus para "deixar de lado os muçulmanos".

"Mas vamos lutar e esperamos (...) que um dia exista paz em Jerusalém", disse.

Na quarta-feira, as forças israelenses entraram duas vezes na mesquita de Al-Aqsa e retiraram, com violência, os fiéis durante as orações noturnas.

Israel afirmou que as forças de segurança foram obrigadas a agir para "restabelecer a ordem" devido à presença de "extremistas" na mesquita.



Na quinta-feira, mais de 30 foguetes foram lançados contra o território israelense a partir do Líbano, na escalada mais grave desde 2006 na fronteira entre os dois países, que tecnicamente permanecem em guerra após vários conflitos.

Israel respondeu e bombardeou infraestruturas do movimento radical palestino Hamas na Faixa de Gaza, governada pelo grupo, e no sul do Líbano.

Na sexta-feira aconteceram dois atentados: o primeiro em um assentamento judaico na Cisjordânia ocupada, que matou duas irmãs israelenses de 16 e 20 anos, e o segundo em Tel Aviv, que matou um turista italiano.

O conflito israelense-palestino se intensificou desde o início do ano. Ao menos 92 palestinos, 18 israelenses, uma ucraniana e um italiano morreram, de acordo com um balanço da AFP com base em informações divulgadas por fontes oficiais.