A principal economia europeia abre um novo capítulo energético, confrontada com o desafio de prescindir dos combustíveis fósseis ao mesmo tempo em que tenta administrar a crise do gás desencadeada pela guerra na Ucrânia.
"Será um ato muito emocionante para os colegas desligar a usina pela última vez", afirma Guido Knott, presidente da empresa PreussenElektra, que opera o Isar 2, a poucas horas de seu encerramento.
À meia-noite, no mais tardar, as centrais Isar 2 (sudeste), Neckarswestheim (sudoeste) e Emsland (noroeste) serão desconectadas da rede elétrica. Desde 2003, a Alemanha já fechou 16 reatores.
O governo alemão concordou em fazer um adiamento de várias semanas em relação à data originalmente prevista, 31 de dezembro, mas sem pôr em xeque virar a página deste tipo de energia no país.
"Os riscos ligados à energia nuclear são, definitivamente, não administráveis", disse a ministra do Meio Ambiente, Steffi Lemke, esta semana.
De fato, preocupam amplos setores da população e deram força ao movimento ambientalista.
Neste sábado, aos pés do Portão de Brandemburgo, em Berlim, a ONG Greenpeace organizou uma despedida do átomo, simbolizado pelos restos de um dinossauro derrotado pelo movimento antinuclear.
"A energia nuclear pertence à história", proclamou a ONG.
Em Munique, uma "festa pela saída da energia nuclear" reuniu algumas centenas de pessoas, conforme registrado pela AFPTV.
"Energia nuclear, obrigado", publicou neste sábado o jornal conservador FAZ, destacando os benefícios que, segundo ele, trouxe para a Alemanha.
- 'Erro estratégico' -
A invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022 poderia ter colocado tudo em suspenso, porque a Alemanha, privada do gás russo, temia os piores cenários possíveis: desde o risco de fechar suas fábricas até ficar sem calefação.
No final, o inverno se passou sem desabastecimento, e o gás russo foi substituído por outros fornecedores.
O consenso em torno do abandono da energia nuclear desmoronou, porém. Segundo uma pesquisa recente do canal público ARD, 59% dos entrevistados acham que abandonar a energia nuclear nesse contexto não é uma boa ideia.
A Alemanha deveria "ampliar a oferta de energia, não restringi-la ainda mais", sob risco de desabastecimento e alta de preços, lamentou o presidente das Câmaras de Comércio alemãs, Peter Adrian, ao jornal Rheinische Post.
"É um erro estratégico em um ambiente geopolítico que continua tenso", disse Bijan Djir-Sarai, secretário-geral do partido liberal FDP, parceiro do governo de coalizão de Olaf Scholz e ambientalistas.
As três últimas usinas forneceram apenas 6% da energia produzida no país no ano passado, enquanto a energia nuclear respondia por 30,8% em 1997.
Em paralelo, o percentual de energias renováveis no total da produção aumentou para 46% em 2022, contra menos de 25% uma década antes.
"Depois de 20 anos de transição energética, as energias renováveis produzem agora produzem cerca de uma vez e meia mais eletricidade do que a energia nuclear em seu pico na Alemanha", disse à AFP o diretor do centro de pesquisa Agora Energiewende, Simon Müller, especializado em transição energética.
Mas, na Alemanha, primeiro emissor de CO2 da União Europeia, o carvão continua representando um terço da produção de eletricidade, com um aumento de 8% no ano passado para compensar a ausência do gás russo.
Até a ativista sueca Greta Thunberg criticou Berlim, dizendo que seria melhor continuar usando centrais de energia para reduzir o uso de carvão.
A Alemanha prefere se concentrar em sua meta de cobrir 80% de suas necessidades de eletricidade com energia renovável até 2030 e fechar suas usinas de carvão até 2038.
O país tem que "pisar no acelerador" em matéria de energia eólica onshore, alerta Müller.
Segundo o chanceler alemão, Olaf Scholz, será necessário instalar de quatro a cinco aerogeradores por dia nos próximos anos para cobrir as necessidades.
BERLIM