Faltando oito rodadas para o fim, os napolitanos têm uma sólida vantagem de 14 pontos sobre a vice-líder Lazio. O título seria histórico para o clube, já que não é conquistado desde 1990 quando era liderado em campo pelo lendário argentino Diego Maradona, a quem a cidade até hoje reverencia dando a ele uma aura de santidade.
No Bairro Espanhol (Quartieri Spagnoli), um labirinto de ruelas no centro da cidade onde bate o coração do povo napolitano, a devoção é maior pela equipe comandada no ataque pelo nigeriano Victor Osimhen.
Em Spaccanapoli, a rua que literalmente "corta" a cidade em dois, e na Via Toledo, artéria comercial, as cores do Napoli nas camisas e flâmulas ocupam todo o campo de visão.
No último andar de um prédio, um morador decorou suas quatro varandas com fotos de jogadores do Napoli.
Os comerciantes não ficam atrás e também já aderiram à onda 'azzurra'. É o caso de Antonio Coppola, padeiro no centro histórico, que fabrica e vende pães azuis decorados com um 'N' do Napoli a cada jogo do clube.
"Eu vivo para o Napoli, é minha paixão, então tive a ideia de criar um pão em sua homenagem (...) para meus clientes 'tifosi'", explica o homem de 37 anos, que conseguiu encontrar entre seus fornecedores um corante alimentar que resiste perfeitamente ao cozimento.
E sua iniciativa causou sensação entre seus clientes: "Tudo relacionado ao clube funciona bem em Nápoles hoje em dia".
Salvatore Russo, que administra um estúdio de tatuagem na Via Toledo, também contribuiu com seu grão de areia com um escudo comemorativo do terceiro 'Scudetto' do clube. "No dia 30 de janeiro, decidi deixar a superstição de lado e tatuá-lo", disse à AFP em seu salão, diante de um retrato de Diego Maradona coroado por um crucifixo.
- Maradona e San Gennaro -
"Os jogadores o têm costurado na camisa, eu o costurei na minha pele", dispara este napolitano que nasceu a cerca de vinte metros do imenso afresco que representa Maradona no coração dos bairros espanhóis. Ele conta que já fez cerca de trinta dessas tatuagens.
Quem tampouco deixa espaço para pessimismo é Antonio Cardone, cliente de Salvatore. O terceiro título "já quase o conquistamos. O quarto, espero que venha logo porque já estou com 56 anos", brinca.
Além do escudo do Napoli, ele grava na pele de Antonio as datas dos três títulos, que também fala da importância de Maradona: "Para nós é um ídolo: primeiro San Gennaro e logo depois Maradona", diz, referindo-se ao padroeiro de Nápoles, objeto de grande veneração.
Nesta cidade onde a miséria e o desemprego convivem com a máfia, a paixão pelo futebol transcende gerações e classes sociais: o advogado Eugenio Salzano, recém-saído dos tribunais, não hesita em abrir a camisa para mostrar suas tatuagens inspiradas no Napoli.
No dia do título, "vocês vão perceber o que é festejar em Nápoles (...) É uma loucura!", promete o quadragenário, que acompanha todos os jogos como sócio.
O Vesúvio, cuja majestosa silhueta domina a baía de Nápoles, também é onipresente: "Se entrar em erupção, esperamos que cuspa lava tricolor" nas cores da bandeira italiana, acrescenta rindo.
Nem mesmo a eliminação na terça-feira nas quartas de final da Liga dos Campeões contra o Milan esfriou o ânimo dos 'tifosi'.
"A eliminação não muda nada (...). Vamos olhar para frente para vencer o 'Sudetto'", afirma Vincenzo Celentano, de 47 anos, outro fiel assíduo do estádio Diego Maradona. "Nápoles é sempre Nápoles (...) está cada vez mais bonita, mesmo em momentos menos afortunados".
Essa análise é compartilhada por um taxista, termômetro infalível do sentimento popular: "Temos uma vantagem de 22 pontos sobre o Milan no campeonato, isso é o que conta. É o que mostra que somos os mais fortes", proclama Giuseppe de Bernardo, de 47 anos.
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