Jornal Estado de Minas

WASHINGTON

Joe Biden, um otimista na 'batalha pela alma da nação'

Joe Biden, 80 anos, anunciou que disputará a reeleição para seguir com "a batalha pela alma" de uma nação dividida, mas o caminho está repleto de obstáculos, com um índice de popularidade reduzido e as limitações próprias da idade.



Se vencer as eleições de 2024, o democrata completará o segundo mandato aos 86 anos, um recorde.

Ele não é tão carismático como outros presidentes, mas sua determinação e fama de bondoso abriram as portas ao longo de uma vida marcada por fracassos políticos e dramas pessoais que não o impediram de acreditar em sua boa sorte.

"Pelo amor de Deus, somos os Estados Unidos da América. Não há nada que não possamos fazer", afirma com frequência o 46º presidente da história do país.

Em 2017, Joe Biden parecia caminhar para a aposentadoria e um relativo esquecimento quando, em agosto, uma passeata da extrema-direita pelas ruas de Charlottesville (sul da Virginia) o levou a travar uma "batalha pela alma dos Estados Unidos", contra o então presidente republicano Donald Trump.

- "Novo começo" -

Na cerimônia de posse, em 20 de janeiro de 2021 no Capitólio, atacado duas semanas antes pelos simpatizantes de Trump, Biden prometeu um "novo começo".

Experiência política não falta ao democrata. Ele foi senador por 36 anos, vice-presidente de Barack Obama durante dois mandatos e agora é o presidente de um país com grandes desigualdades sociais e raciais, que incluem um recorde de mortes por overdoses e vários massacres com armas de fogo.



Ele garante que o país vai se recuperar ao recorrer aos valores americanos originais, o sonho fundacional de prosperidade e a famosa "busca da felicidade" consagrada na Declaração de Independência.

Biden afirma que deseja devolver a "dignidade" aos americanos "esquecidos" pela globalização, um eleitorado que foi seduzido por Donald Trump, um empresário nascido em uma família muito rica.

Joseph Robinette Biden Jr sempre recorda que veio da "classe média" e descende de imigrantes irlandeses.

Nascido em 20 de novembro de 1942 em Scranton, Pensilvânia (nordeste), "Joey", o mais velho de quatro irmãos, não cresceu na pobreza, mas seu pai, empresário, enfrentou altos e baixos da economia.

- Senador com 29 anos -

Ele conheceu a realidade dos afro-americanos graças a um trabalho como socorrista em um bairro de maioria negra. Com o tempo, eles se tornaram parte de seu grande sucesso eleitoral.

Depois de estudar Direito, e sem combater no Vietnã, o jovem se tornou em 1972, aos 29 anos, senador por Delaware pelo Partido Democrata.



Um mês depois das eleições, sua esposa Neilia e a filha, ainda bebê, morreram em um acidente de carro.

O novo senador prestou juramento no hospital, ao lado dos leitos de seus dois filhos sobreviventes, Beau e Hunter.

Os americanos também lembram da triste imagem de um Joe Biden devastado em 2015 pela dor no enterro de Beau, vítima de câncer.

As tragédias marcaram um presidente que, após um tiroteio ou uma catástrofe, sabe consolar as vítimas. Ele é conhecido justamente por sua empatia, mas também por suas gafes.

- Gagueira -

Biden não tem a eloquência de Barack Obama nem a verve de Donald Trump, mas compensa a falta de carisma com sua obstinação.

Ele conta que, na infância, corrigiu a gagueira apenas recitando poesia irlandesa.

O democrata tentou disputar a presidência em três oportunidades. Em uma delas, em 1988, o sonho foi bloqueado por acusações de plágio.

Em 2008, ele se tornou vice-presidente.



E quando chegou seu momento de escolher um nome para a vice-presidência, Biden optou por Kamala Harris, a primeira mulher asiática e afro-americana a ocupar o cargo.

Ele foi eleito com a promessa de restabelecer a normalidade após a pandemia e quatro anos de Trump.

O democrata adotou uma agenda intensa: vacinação em larga escala, pacotes de estímulo econômico e retorno ao cenário internacional.

O presidente cultiva uma imagem de americano médio, que gosta de sorvete e Corvettes. Mas, como milionário, ofereceu à neta uma cerimônia de casamento quase principesca na Casa Branca.

E não se importa com a agitação da imprensa. Ele mantém os jornalistas afastados de sua família.

Com a segunda esposa Jill Biden, mãe de sua filha Ashley e professora universitária, Joe Biden se refugia quase todos os fins de semana em sua residência de Wilmington (Delaware).



O católico fervoroso, mas defensor do direito ao aborto, frequenta a missa.

Ele elogia com frequência o falecido Beau, mas quer ser um pai compreensivo para Hunter, que sofreu com diversos vícios e é alvo de republicanos, que o acusam de fazer negócios duvidosos na Ucrânia e na China.

- Afeganistão, Ucrânia -

No verão de 2021, o relativo período de calma de Biden foi frustrado pela caótica retirada do Afeganistão e, mais tarde, por um aumento histórico da inflação.

Desde então, o índice popularidade do democrata é reduzido. Os americanos percebem o andar rígido e os momentos de confusão do presidente.

Os relatórios médicos tranquilizadores de novembro de 2021 e fevereiro de 2023 não mudam as coisas.

Biden tem dificuldade para transmitir seu otimismo, apesar de alguns sucessos inegáveis, como sua liderança ocidental após a invasão da Ucrânia pela Rússia e suas gigantescas reformas econômicas, para enfrentar a China.

E tudo isso apesar de, nos dois primeiros anos de mandato, controlar o Congresso por uma pequena maioria e de agora ter maioria apenas no Senado.

Ele também precisa lidar com uma Suprema Corte ultraconservadora, herança de seu antecessor, que em 2022 dinamitou o direito constitucional ao aborto.

Mas ele resiste, como foi observado em novembro de 2022, quando o Partido Republicano não conseguiu a vitória esmagadora que muitos apostavam nas eleições de meio de mandato.

Agora ele retorna à batalha eleitoral para "salvar a alma dos Estados Unidos", ou pelo menos para tentar cumprir a promessa.