A solicitação, confirmada por funcionários de alto escalão que pediram anonimato, não foi oficializada por Petro.
Na noite de terça-feira (25), o chefe de Estado colombiano mencionou no Twitter que iria "repensar o governo", após encerrar as alianças com partidos tradicionais, chaves para o sucesso de suas reformas no Congresso.
No poder desde 7 de agosto de 2022, Petro tem tido dificuldades em implementar as profundas mudanças que prometeu em sua campanha eleitoral, em relação aos sistemas trabalhista, de saúde, previdenciário, judiciário, entre outros.
Os partidos Liberal, Conservador e 'de la U', que se distanciaram do governo na terça-feira, se opuseram às pretensiosas iniciativas do primeiro presidente de esquerda na história do país.
Aparentemente, as divergências sobre as propostas de reforma da saúde e do setor agrícola desencadearam o conflito. Um debate sobre a primeira proposta agendado para esta quarta na Câmara Baixa foi cancelado.
Em um evento público, Petro afirmou que é necessário instalar um "governo de emergência" na Colômbia, "já que o Congresso não foi capaz de aprovar alguns artigos simples e muito pacíficos" sobre a divisão equitativa de terras.
"Emergência significa que dia e noite, equipes do governo estejam trabalhando (...) Quem não seja capaz de fazer isso, já não tem espaço em nosso governo", acrescentou
Nenhum dos ministros apresentou publicamente sua renúncia. Segundo a imprensa, o mandatário convocou um conselho de ministros para às 12:00 locais (15:00, no horário de Brasília).
- "Crise inédita" -
O presidente colombiano já havia formado um primeiro gabinete afastado das forças de esquerda que o levaram à presidência e optou por políticos de centro e direita ou acadêmicos como o economista José Antonio Ocampo (Partido Liberal), que indicou para a pasta do Tesouro.
Ele designou o investigador Iván Velásquez para a pasta da Defesa e o conservador Álvaro Leyva para as Relações Exteriores.
Outros como Alfonso Prada (Interior) e Guillermo Reyes (Transportes) têm ligações com os partidos que agora se opõem às reformas do governo.
O presidente do Congresso, Roy Barreras, assegurou na RCN Radio que os gestos de Petro "geram uma crise inédita" no país. "Não lembro" de um presidente "decretar a morte de sua coalizão de governo" tão prematuramente, disse o parlamentar do partido governista.
Durante seu mandato como prefeito de Bogotá (2012-2015), Petro enfrentou constantes mudanças em sua equipe de trabalho, seja por demissões ou por decisão própria. Na ocasião, os opositores e alguns de seus ex-funcionários apontaram a dificuldade do atual presidente de trabalhar em equipe.
Em 15 de fevereiro, o mandatário pediu a seus apoiadores que fossem às ruas para pressionar pela aprovação de suas reformas.
Em seguida, alertou de uma sacada da residência presidencial Casa de Nariño que continuaria convocando manifestações até que a "mudança" fosse uma realidade.
Dias depois, em 28 de fevereiro, demitiu três de seus ministros, entre eles o centrista Alejandro Gaviria, da pasta da Educação, cujas críticas à reforma da saúde proposta pelo governo vazaram na imprensa.
Também foram afastadas a campeã olímpica María Isabel Urrutia, do Ministério do Esporte, acusada em um escândalo de corrupção, e Patricia Ariza, da pasta de Cultura, sem justificativa conhecida para a decisão.
- Reveses -
O terremoto no gabinete representa a pior crise governamental interna em pouco mais de nove meses de mandato.
"As pessoas estão com muita incerteza frente ao futuro, para onde vamos, e as mudanças de ministros o que fazem é aprofundar essa incerteza", garantiu na Rádio W, o ex-presidente (2010-2018) e Nobel de Paz, Juan Manuel Santos.
Além do fracasso no Congresso, Petro acrescenta contratempos em suas tentativas de estabelecer a paz com as organizações que seguiram em armas, após o histórico acordo de paz com a guerrilha das Farc em 2016.
Os guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN), com quem conduz negociações de paz, se recusaram a participar de um cessar-fogo bilateral proposto pelo governo em 31 de dezembro.
Já o Clã do Golfo, o maior cartel do tráfico de drogas no país, aceitou de início a trégua, mas, meses depois, o presidente reativou as operações militares contra essa organização após ataques a civis e forças públicas.