Jornal Estado de Minas

BRASÍLIA

PF faz buscas na casa de Bolsonaro por suposta fraude em cartões de vacinação

A Polícia Federal (PF) realizou buscas na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro, em Brasília, nesta quarta-feira (3), como parte de uma investigação sobre a suposta falsificação de cartões de vacinação contra a covid-19.



O ex-presidente (2019-2022), de 68 anos, negou as suspeitas e acusou as autoridades de tentarem fabricar um caso contra ele.

"Não há adulteração de minha parte, eu não tomei a vacina", disse Bolsonaro em declarações a jornalistas em frente à sua casa na capital federal. "Eu realmente fico surpreso", acrescentou.

Bolsonaro, muito questionado por sua gestão da pandemia, que deixou mais de 700.000 mortos no país, assegurou que a PF também apreendeu seu telefone celular e inspecionou os registros de vacinação de sua família.

A operação foi ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que considera haver uma linha investigativa "plausível, lógica e robusta", que sugere que o ex-presidente possa estar pessoalmente envolvido nas supostas irregularidades.

- "Burlar" as restrições sanitárias -

O caso averígua uma suposta "associação criminosa", suspeita de inserir "dados falsos de vacinação contra a covid-19 nos sistemas" públicos de saúde, informou a Polícia Federal em nota.

Suspeita-se que o objetivo fosse "burlar" as restrições sanitárias impostas por autoridades brasileiras e americanas para evitar a propagação do vírus.



Embora a nota não mencione Bolsonaro, no relatório do magistrado, a PF destaca que o ex-presidente foi inserido nos registros como se tivesse tomado duas doses da vacina anticovid, em agosto e em outubro passados.

A ex-primeira-dama, Michelle, e a filha do casal de 12 anos, além de assessores e um deputado federal também teriam sido beneficiados destas supostas inserções fraudulentas, segundo a PF.

Durante seu governo, Bolsonaro chegou a ironizar os imunizantes, dizendo que aqueles que tomassem a vacina poderiam virar "jacaré".

Derrotado nas eleições de outubro, o ex-presidente viajou aos Estados Unidos em 30 de dezembro, dois dias antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os Estados Unidos exigem dos viajantes internacionais que chegam de avião ao país que apresentem certificado de vacinação contra a covid-19, um requisito que as autoridades americanas vão deixar de cobrar em 11 de maio e que não se aplica a funcionários de governos estrangeiros.



"Nas minhas idas aos Estados Unidos, nunca foi exigido o cartão vacinal", explicou Bolsonaro nesta quarta à Jovem Pan.

Aliado do ex-presidente americano Donald Trump, Bolsonaro permaneceu em Orlando, na Flórida, até 30 de março.

Desconhece-se como as autoridades americanas gerenciaram a permanência do ex-presidente brasileiro, depois de encerrado o seu mandato, em 1º de janeiro.

Um porta-voz do Departamento de Estado americano disse nesta quarta a jornalistas em Washington que os registros individuais de visto são confidenciais.

Os supostos dados falsos de vacinação de Bolsonaro teriam sido inseridos no sistema de saúde pública antes de ele viajar e, em seguida, eliminados, segundo o relatório da PF, que consta da investigação e ao qual a AFP teve acesso.

- "Corrupção gravíssima" -

A Polícia Federal informou, ainda, que a operação desta quarta-feira incluiu 16 mandados de busca e apreensão em Brasília e no Rio de Janeiro, além de seis ordens de prisão preventiva.

Segundo a imprensa, a PF deteve, entre outros, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e considerado seu braço direito durante a Presidência.



"Conspirar contra a saúde pública é uma corrupção gravíssima", afirmou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.

Bolsonaro foi convocado a depor na sede da PF, mas seus advogados recomendaram que ele ficasse em silêncio.

"Bolsonaro irá o quanto antes, (...) mas precisamos ter acesso aos autos", disse o advogado de defesa Paulo Cunha Bueno ao jornal Folha de S. Paulo.

Desde que voltou ao Brasil, no final de março, Bolsonaro já foi interrogado duas vezes pela Polícia Federal.

Em 5 de abril, prestou depoimento no âmbito da investigação sobre a entrada irregular ao Brasil de joias valiosas presentadas pela Arábia Saudita em 2021.

E na semana passada, Bolsonaro precisou depor à PF em outra investigação, sobre seu suposto papel nos ataques às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro, em Brasília, quando seus apoiadores invadiram os prédios públicos em uma tentativa de depor Lula, empossado sete dias antes.

No total, Bolsonaro enfrenta quatro investigações no Supremo Tribunal Federal que podem mandá-lo para a prisão, e outras 16 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O TSE, que investiga principalmente as afirmações não comprovadas de Bolsonaro sobre fraude generalizada no sistema eleitoral, pode torná-lo inelegível por oito anos, tirando-o das eleições presidenciais de 2026.