Jornal Estado de Minas

NOVA YORK

Júri considera Trump responsável por abuso sexual e difamação contra ex-jornalista

O júri de um tribunal federal de Nova York decidiu, nesta terça-feira (9), que Donald Trump foi responsável de abuso sexual e difamação, mas não de estupro, contra a ex-jornalista E. Jean Carrol, e terá que ressarci-la com uma indenização de US$ 5 milhões (por volta de R$ 25 milhões).



Os nove jurados - seis homens e três mulheres - consideraram por unanimidade, após cerca de três horas de deliberação, que o ex-presidente foi responsável por abuso sexual e difamação contra a ex-colunista da revista Elle, mas não de estupro, segundo um jornalista da AFP presente na sala.

Os montantes fixados como indenização para a ex-jornalista de 79 anos chegam a US$ 5 milhões (cerca de R$ 25 milhões).

Acusado apenas no âmbito civil e não criminal, Trump tachou a sentença de "vergonha". "Não tenho absolutamente nenhuma ideia de quem é esta mulher", escreveu ele em sua rede Truth Social.

Carroll processou Trump por estupro e difamação no ano passado, depois que ele classificou de "completa farsa", "falsidade" e "mentira" a revelação em um livro, publicado por ela em 2019, de que o ex-presidente a teria estuprado no provador de uma loja de departamento em Nova York, em 1996.



Emocionada, Carroll abraçou seus três advogados após ouvir a decisão. O responsável pela defesa de Trump, Joe Tacopina, se dispôs a apertar sua mão.

Em seguida, a ex-jornalista deixou as dependências do tribunal com um sorriso no rosto, sem fazer declarações.

"Estamos muito felizes", limitou-se a dizer sua advogada, Roberta Kaplan.

"Você é muito corajosa, obrigado!", disse a Carroll um dos manifestantes reunidos do lado de fora do tribunal, situado na zona sul de Manhattan.

- 'Envergonhada' -

Durante o julgamento, que durou duas semanas e no qual Trump não compareceu, a ex-jornalista reconheceu que se sentiu "envergonhada" pelo abuso que a impediu de ter uma relação sentimental desde então.

"Levei muito tempo para entender que permanecer em silêncio não funciona", disse.

Outras duas mulheres que alegaram ter sido vítimas de abuso sexual por parte de Trump testemunharam no julgamento para comprovar que o ex-presidente tinha um padrão de conduta.



Uma delas, a executiva Jessica Leeds, disse na corte que Trump a tocou em um voo doméstico na classe executiva na década de 1970, enquanto a segunda, a jornalista Natasha Stoynoff, garantiu que o magnata lhe deu um beijo forçado durante uma entrevista em sua mansão em Mar-a-Lago em 2005.

Mais de dez mulheres acusaram Trump de abuso sexual antes das eleições que o elegeram presidente dos Estados Unidos em 2016.

O republicano, que quer voltar à Casa Branca em 2024, sempre negou as acusações e jamais havia sido condenado pela Justiça até agora.

- 'Doente' -

Trump não foi interrogado presencialmente durante o julgamento, e sua defesa não convocou nenhuma testemunha.

No entanto, um vídeo com seu depoimento feito sob juramento à advogada de Carroll, Roberta Kaplan, em outubro do ano passado, foi mostrado ao júri. No mesmo, ele tacha a ex-jornalista de "mentirosa" e "doente".



Os advogados de Trump alegaram que ela tinha inventado o caso, movida por "dinheiro, razões políticas e status".

Carroll recorreu a uma lei promulgada em novembro no estado de Nova York que abriu para as vítimas de agressões sexuais um prazo de um ano para processar seus supostos agressores por abusos que já estavam prescritos.

A ex-jornalista acusou Trump de agressão, "quando a estuprou e apalpou à força" e de difamação por comentários que causaram "prejuízo de reputação, emocional e profissional".

No julgamento, o júri deveria considerar se ficou comprovada a preponderância da evidência, o que tem peso menor do que em processos no âmbito criminal, que requerem uma prova além de qualquer dúvida razoável.

O caso é um dos muitos desafios legais que Trump enfrenta.

No mês passado, ele declarou-se inocente em um processo penal relacionado com o pagamento de suborno para comprar o silêncio de uma atriz pornô pouco antes da eleição de 2016.

O magnata também está sendo investigado por seus esforços para reverter sua derrota no pleito de 2020 no estado da Geórgia, o suposto manuseio incorreto de documentos classificados retirados da Casa Branca e seu envolvimento na invasão do Capitólio por seus simpatizantes em 6 de janeiro de 2021.