Desde cedo, milhares de moradores do distrito de San Juan de Lurigancho, o mais populoso de Lima, com 1,5 milhão de habitantes, saíram de casa para permitir a fumigação. Segundo o Ministério da Saúde, foram reportados 73.159 casos neste ano, 79 óbitos e 671 internações.
A ministra da Saúde, Rosa Gutiérrez, afirmou que a cifra é a mais alta desde 2017, quando houve 68.290 mil casos e 89 mortos após o fenômeno meteorológico El Niño. "Este novo surto está relacionado a um fator meteorológico", afirmou a ministra.
Departamentos do norte do Peru e da Amazônia, onde houve chuvas intensas entre fevereiro e abril, são os mais afetados pela doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Os brigadistas usam um inseticida potente à base de fosfatos orgânicos, segundo autoridades sanitárias.
"Nunca se viu assim tão forte. Em quase todos os bairros de Lima se está registrando a doença", destacou Erika Toribio, de 41 anos, que esperava na rua com um bebê enquanto sua casa era desinfetada. "A dengue está matando muita gente. A gente se salvou da covid, agora vem esta doença", comentou a comerciante Leslie Llontop, de 26 anos.
A fumigação também gerou críticas entre alguns médicos. "Nenhuma epidemia de dengue foi controlada com fumigação. Nesta fase, é necessária uma resposta hospitalar e evitar as mortes", ressaltou o médico Juan Celis, presidente da Sociedade Peruana de Doenças Infecciosas e Tropicais, em sua conta no Twitter.
"A situação que enfrentamos é muito grave. O aumento dos casos começou no fim do ano passado e cresce violentamente", declarou o ex-ministro da Saúde Víctor Zamora à rádio RPP.
A dengue foi detectada no Peru pela primeira vez em 1984. Desde então, tornou-se uma doença endêmica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou em abril que esta e outras doenças causadas por vírus transmitidos por mosquitos se propagam muito mais e por uma distância maior sob o efeito das mudanças climáticas.
Segundo a OMS, a dengue é endêmica em 100 países, mas representa uma ameaça para outros 29. O número de casos aumentou exponencialmente nos últimos anos, passando de meio milhão em 2000 para 5,2 milhões em 2019.