A delegação do Exército de Libertação Nacional (ELN) para os diálogos de paz expressou, em um comunicado "urgente" de Havana, sua preocupação com falas em que Petro colocou em dúvida a união dessa guerrilha e a liderança de seus dirigentes.
Petro disse na sexta-feira a militares de seu país que, embora algumas frentes do ELN, por sua "autonomia", estejam se aproximando da postura do governo colombiano de alcançar a paz, há outras que, apesar de "terem a mesma bandeira", "sua razão de ser é a economia ilícita".
"Bem, falemos de paz, mas é preciso resolver a questão da economia ilícita" porque os recursos ilícitos conferem "uma hierarquia de poder, proporcionam magnitudes militares e, portanto, controle territorial" que dificultam a negociação de paz, afirmou Petro.
A delegação do ELN, que participa da terceira rodada de negociações na capital cubana, estimou que o que foi dito por Petro, além de ser "estigmatizante e desrespeitoso", é "um questionamento fundamental ao sentido político da Mesa de Diálogos e a toda a sua arquitetura", iniciada em novembro em Caracas e continuada em março na Cidade do México.
"Solicitamos que, de maneira urgente, o presidente da República, Gustavo Petro Urrego, defina se seu governo continua considerando que, tal como está estipulado no Acordo de México assinado pelas partes e depositado perante os garantes, este é um processo político sério que tem como objetivo 'superar o conflito armado que vem ocorrendo há seis décadas'", apontaram os negociadores da guerrilha.
Petro, o primeiro presidente de esquerda da Colômbia, impulsionou as negociações de paz desde o final de 2022 com os rebeldes guevaristas.
No início de maio, as duas partes se propuseram a trabalhar para alcançar um cessar-fogo e concordaram com a necessidade de incluir a participação da sociedade no processo de paz.
As negociações voltam a ser colocadas em dúvida, depois de terem sido abaladas no final de março pelo ataque perpetrado pelo ELN perto da fronteira com a Venezuela, que deixou 10 militares mortos.
Sangrando após meio século de conflito armado, a Colômbia tentou numerosas negociações de paz com grupos armados, muitas delas fracassadas. Em 2016, um pacto histórico desarmou a poderosa guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e a transformou em partido político.