No filme, apresentado em Cannes fora da competição, Emiliano, um jovem com trabalhos precários, procura desesperadamente sua mãe, uma professora contrária a uma exploração mineira desaparecida alguns anos antes.
O protagonista está disposto a tudo para encontrar seu paradeiro, inclusive trabalhar na casa de uma família de artistas famosos que, segundo ele, estão envolvidos no crime.
Com imagens muito cuidadosas, trabalhadas, mas que mostram diretamente a violência, Escalante desenvolve a história entre essa família rica e Emiliano, em forma de thriller.
"Há uma forma que é mais comum de filmar violência no cinema e creio que o que tento é me aproximar desse outro ângulo mais cru, um ângulo a partir do qual não estamos tão acostumados a ver o ato de violência quando acontece", disse o cineasta em entrevista nesta sexta-feira (19) à AFP.
Diferentemente de Hollywood, onde é tratada mais como uma emoção, acrescenta, "para mim, a violência é muito mais o oposto de estar exaltado. É muito triste e me interessa mostrá-la dessa maneira mais honesta".
Escalante volta a Cannes uma década depois de concorrer à Palma de Ouro com "Heli", que conta a história de uma adolescente que se apaixona por um jovem policial envolvido em um caso de desvio de dinheiro. Com o filme, ele conquistou o prêmio de melhor direção.
- "Ilusão de ótica" -
O cineasta começou a pensar em "Perdidos en la noche" a partir do caso de Ayotzinapa, em 2014, quando 43 estudantes desapareceram. O tempo passou e ele fez outro filme neste período, mas a ideia perdurou.
O filme foi rodado no estado de Guanajato (centro), um dos mais violentos do país, e onde mora o próprio Escalante.
Em "Perdidos en la noche", a família rica que acolhe Emiliano transita pelos círculos artísticos: ela é uma cantora famosa e ele um polêmico artista que já trabalhou com cadáveres.
Ele se interessou em retratar esta família para mostrar pessoas que jamais seriam relacionadas a esta violência.
Porém, em sua opinião, todo o mundo está envolvido, ainda que "seja fácil pensar que estamos alheios a isso". "Somos parte deste sistema e precisamos questionar por que não está funcionando", insiste o cineasta, de 44 anos.
Como cineasta mexicano, Escalante também se pergunta se é legítimo falar de violência e usá-la, de certa maneira, como motivo de inspiração, em um país como o seu.
"Sinto que há uma certa responsabilidade em falar sobre alguns temas (de violência), mas ao mesmo tempo, você está usando esses temas", disse o diretor, nascido em Barcelona, mas de nacionalidade mexicana. "Essa contradição me interessou, esse incômodo de usar a tragédia como instrumento narrativo, de inspiração".
As redes sociais também têm um papel importante na história. Ainda que para Escalante não sejam perigosas, mas um novo meio sobre o qual não conhecemos as consequências.
"É algo muito novo, muito potente, que talvez ainda não dimensionamos por completo", adverte. Do outro lado das telas, "há muita ilusão de ótica, uma realidade alternativa, na qual as vezes podemos nos perder".