Em 18 de maio, um tribunal penal de Monróvia causou sensação ao declarar não culpados um liberiano, um cidadão de Guiné Bissau, um português e um libanês detidos por relação com a apreensão, em outubro de 2022, de 520 quilos de cocaína - com valor estimado em 100 milhões de dólares (R$ 496 milhões na cotação atual) - escondidos, segundo as autoridades, em um contêiner proveniente do Brasil.
Fruto da cooperação com os Estados Unidos e o Brasil, esta é uma das apreensões mais importantes já realizadas no país.
A decisão pronunciada por um júri popular foi ainda mais surpreendente, já que o tribunal ordenou a restituição aos suspeitos de 200.000 dólares (quase R$ 1 milhão) confiscados na operação.
O caso revela o papel do litoral da África Ocidental nas rotas do tráfico de droga proveniente da América do Sul, especialmente destinada à Europa, assim como o funcionamento da Justiça e sua exposição à corrupção.
A decisão do tribunal "torna a Libéria motivo de chacota internacional", disse o ministro da Justiça Frank Musah Dean Jr em comunicado.
Isso "afeta claramente os esforços coletivos realizados pela Libéria e seus aliados internacionais para lutar contra o tráfico de drogas ilícitas, e contra a utilização da África Ocidental como rota de comércio internacional proveniente da América Latina e de outras partes", acrescentou o ministro na nota.
Ele também questionou a utilização de júris populares no país. "Fala-se constantemente da prática imoral de subornar o júri durante esses julgamentos", escreveu.
Em seu relatório sobre direitos humanos na Libéria em 2022, o Departamento de Estado dos Estados Unidos observa que os juízes "estão sujeitos a tentativas de influência e envolvidos em corrupção".
"Advogados e promotores supostamente instruíram os réus a pagar propinas para obter decisões favoráveis de juízes, promotores e jurados", diz o documento.
MONRÓVIA