"Defendam os seus direitos no segundo turno, em 28 de maio", grita Rojda Aksoy, uma mulher pequena, enquanto caminha entre áreas de vendas de azeitonas e morangos.
"O 'rais' (chefe) vai ganhar", responde outra mulher, simpatizante do presidente Recep Tayyip Erdogan.
No poder há duas décadas, Erdogan não conseguiu a reeleição no primeiro turno, em 14 de maio.
O diálogo áspero registrado no bazar é parte da batalha para convencer os 64,1 milhões de eleitores turcos, na votação mais relevante no país nas últimas décadas.
A oposição busca votos em todos os cantos para conseguir a vitória do político social-democrata e laico Kemal Kilicdaroglu no segundo turno.
Um dos segmentos mais visados é o das donas de casa, uma base de apoio de Erdogan.
- "Turquia é laica" -
Erdogan virou um herói para os conservadores turcos ao acabar com várias restrições religiosas, incluindo o uso de véu em prédios públicos e nas universidades, em um país oficialmente laico.
O apoio ao presidente entre as donas de casa alcançou 60% nas eleições de 2018, de acordo com uma pesquisa do instituto Ipsos, quase oito pontos acima de sua votação a nível nacional.
Mas a desvalorização constante da lira turca e a inflação elevada afetaram a vida cotidiana das mulheres.
A pior crise econômica da Turquia desde os anos 1990 abriu espaço para o discurso de Aksoy, que busca apoio para sua causa.
"Nós lembramos que mesmo que (Erdogan e seu partido) estejam no poder há mais de 20 anos, mesmo com toda a propaganda a sua disposição, não conseguiram vencer no primeiro turno", disse Aksoy.
Com parte da campanha baseada em vídeos gravados na cozinha de sua casa - que viralizaram -, Kilicdaroglu recebeu 44,9% dos votos em 14 de maio, o que forçou o segundo turno com Erdogan.
No primeiro turno, Kilicdaroglu não convenceu Cidgem Ener, 50 anos, que optou pelo ultranacionalista Sinan Ogan, que recebeu 5,2% dos votos há duas semanas e anunciou apoio a Erdogan para o segundo turno.
"A Turquia é laica", afirma Ener, ao recordar que as mulheres conquistaram o direito do voto em 1934.
"Olhem a situação lamentável para a qual Erdogan nos arrastou, levando seus amigos do Huda-Par ao Parlamento", acrescenta Ener, em referência ao partido islâmico radical com o qual o presidente estabeleceu um acordo para manter o controle do Poder Legislativo.
O Huda-Par é contrário aos direitos das mulheres e tem vínculos com grupos envolvidos em execuções extrajudiciais, o que enfurece Ener, que também expressa irritação com os preços dos alimentos.
Agora, Ener está decidida a votar em Kilicdaroglu.
Tijyen Alpanli fará o mesmo, por convicção, mas também por medo de alguns líderes islâmicos radicais aliados de Erdogan e o que pode acontecer com as mulheres.
"Os assassinos de mulheres quase nunca são punidos", afirma a mulher de 60 anos a respeito da violência doméstica.
Mas nem todas mudaram de opinião. Raziye Kuskaya, 50 anos, diz que ela e sua filha apoiam Erdogan "até a última gota de sangue".
"Talvez não possamos comprar tudo o que queremos, mas não importa", declarou Kuskaya.
Com menos recursos que o partido governista de Erdogan, a oposição depende das redes sociais para levar sua mensagem aos eleitores.
"Sabemos que há massas que não podemos alcançar, em particular as donas de casa", admitiu o opositor Ekrem Kilicdaroglu, prefeito de Istambul.
- Esperança -
Erdogan enviou suas eleitoras para uma campanha porta a porta, uma de suas armas eleitorais preferidas desde que conquistou a prefeitura de Istambul em 1994.
Emine Erdogan, esposa do presidente, é uma das líderes da campanha.
Erdogan acredita que as ativistas "podem entrar nas casas das mulheres e convencê-las (a votar nele) por causa de seu gênero, valores e classe compartilhados", disse Prunelle Ayme, cientista política do CERI-Sciences Po em Paris.
Quando não há campanha eleitoral, o exército de ativistas do partido AKP de Erdogan faz visitas de cortesia para nascimentos, casamentos ou funerais, o que estabelece vínculos e permite coletar informações valiosas sobre a composição de vários bairros, explica Ayme.
A coalizão de Erdogan conseguiu manter o controle do Parlamento, mas perdeu quase 20 cadeiras nas eleições de 14 de maio.
"Portanto, nós podemos ter esperança", resume Aksoy.
IPSOS