Henri estava perto do local do ataque quando ouviu os gritos desesperados de uma mulher que tentava proteger um bebê em um carrinho. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram que o homem ficou frente a frente e bloqueou o agressor, afastando-o do parquinho, onde estavam outras crianças.
O francês usou uma das mochilas para se proteger. Depois, quando o agressor voltou ao parque infantil, Henri arremessou o item contra ele. O peregrino ainda perseguiu o criminoso que tentou fugir do local.
Segundo autoridades, Henri ganhou segundos preciosos até a chegada da polícia e impediu que mais pessoas fossem atacadas. A mídia local o apelidou de "herói da mochila" e, segundo a Rádio Europe 1, o presidente francês, Emmanuel Macron, deve homenageá-lo pessoalmente nesta sexta-feira (9).
Poucos detalhes sobre o homem foram divulgados, e os franceses o conhecem apenas como Henri d'A. Nas redes sociais, ele publicou apenas um comentário sobre o episódio, dizendo que estava bem e pedindo aos seus seguidores que orassem pelas crianças feridas.
Em entrevista à emissora CNews, Henri contou que viaja pela França para conhecer catedrais e disse que a fé católica lhe deu forças para lutar contra o agressor. "Tudo o que eu sei é que não estava lá por acaso. Em minha jornada, cruzei com este homem e agi instintivamente. Era impensável não fazer nada", disse. "Tentei assustá-lo e deixar claro que ele não podia fazer o que quisesse", acrescentou.
Morador de Paris, Henri mantém uma página em uma rede social com registros da viagem. Embora ainda esteja chocado com os acontecimentos da véspera, o homem aponta como ponto positivo o fato de que seu projeto vem ganhando visibilidade. "Agradeço a Deus que poderei alcançar mais pessoas."
Segundo Henri, o cronograma da viagem não deve ser alterado. Ele é estudante de administração e de filosofia e diz que tem o objetivo de mostrar aos seguidores como a "beleza das catedrais pode nos nutrir e nos ajudar a fazer a coisa certa".
Uma missa em homenagem às vítimas e seus familiares será realizada na catedral de Annecy nesta sexta. Na véspera, o refugiado sírio identificado como Abdalmasih H. esfaqueou de forma aleatória seis pessoas, incluindo quatro crianças. Ele foi detido pela polícia, e o Ministério Público descartou motivação terrorista.
Segundo o ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, o homem carregava uma cruz no momento em que foi preso. O jornal Le Monde relatou que ele dizia frases como "em nome de Jesus Cristo" no momento do ataque. A emissoras locais uma mulher que diz ser ex-esposa do agressor afirmou que o ex-companheiro era cristão e que nunca havia demonstrado traços de uma personalidade violenta.
Ao comentar o episódio, Henri apontou a contradição do agressor ter usado o nome de Jesus em um episódio de violência. "Acho que algo muito ruim o habitava", disse.
Nas redes sociais, as contas de Henri foram inundadas com mensagens de agradecimento. "Que Deus te abençoe. Você fez o que pôde naquele momento, não desistiu, não correu. Você é um anjo", escreveu o usuária Mag Capone no Instagram.
Três crianças que foram esfaqueadas continuam hospitalizadas nesta sexta, segundo a agência de notícias AFP. Elas receberam a visita de Macron, que viajou acompanhado da primeira-dama, Brigitte.
Segundo o porta-voz do governo, Olivier Véran, duas crianças permanecem em estado crítico. Num contexto de tensão política devido à implementação de uma reforma migratória na França, ele pediu prudência e disse ser necessário esperar a conclusão das investigações antes da tomada de decisões.
O suspeito não tem antecedentes criminais e não era investigado por nenhum serviço de inteligência regional. Tampouco tinha histórico psiquiátrico, segundo as autoridades, e não estava sob efeito de entorpecentes ou de álcool no momento em que realizou o ataque.
Ele deve passar nesta sexta por um exame psiquiátrico. Segundo a emissora local da France Bleu, o agressor ainda não havia sido interrogado, já que estava agitado e até "se revirava no chão" da delegacia.
À espera de respostas, dezenas de cidadãos de Annecy depositaram flores brancas, bichos de pelúcia, velas e bilhetes com mensagens de apoio em um pequeno memorial improvisado no local do atentado, onde as crianças voltaram a brincar horas depois do ataque.