A trégua deve ser aplicada "em todo o Sudão a partir de 10 de junho às 6h, horário de Cartum" (1h no horário de Brasília), disse o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita em um comunicado divulgado nesta sexta-feira (9).
Trata-se de um novo cessar-fogo, que se soma a outros que não foram respeitados, neste conflito que eclodiu em 15 de abril entre o Exército, liderado pelo general Abdel Fatah al Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), comandadas pelo general Mohamed Hamdan Daglo.
As partes se comprometeram a interromper a violência durante o cessar-fogo e a permitir "a chegada de ajuda humanitária em todo o país".
A guerra já causou mais de 1.800 mortes, segundo a organização ACLED, especializada na coleta de informações em zonas de conflito.
Quase dois milhões de pessoas deixaram suas casas, e 25 milhões dos 45 milhões de habitantes precisam de ajuda humanitária, segundo a ONU.
Os hospitais das zonas de combate funcionam apenas parcialmente, e a crise pode se agravar com a chegada das chuvas, sinônimo de malária, insegurança alimentar e desnutrição infantil.
Em Cartum, consideramos que apenas 20% dos centros de saúde continuam funcionando", lamentou o chefe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Alfonso Verdú Pérez, em coletiva de imprensa em Genebra, sede da organização.
"Nas últimas semanas, conseguimos entregar material cirúrgico a dez hospitais" da capital, "mas as necessidades são imensas e ainda há muito por fazer", acrescentou, citando graves carências de água, eletricidade, alimentos e suprimentos médicos.
- Persona "non grata" -
No comunicado, os intermediários sauditas e americanos que supervisionam as negociações entre os dois lados em Jidá, no oeste do reino saudita, alertaram que se o cessar-fogo não for respeitado, "os mediadores terão que considerar o adiamento das discussões".
Em nível diplomático, o governo sudanês declarou na quinta-feira "persona non grata" o enviado da ONU ao país, o alemão Volker Perthes, a quem acusa há semanas de contribuir para a eclosão do conflito.
Esta decisão foi tomada "porque (Perthes) se aliou a alguns partidos políticos e insistiu em que a vida política inclui apenas alguns partidos e exclui outros", disse à AFP uma fonte do governo, que pediu anonimato.
O governo "pediu às Nações Unidas" que Perthes "fosse substituído" e diante de sua recusa, "não houve outra opção a não ser tomar essa decisão", acrescentou.
O general Burhan havia exigido a demissão de Perthes, acusando-o de ser o responsável pela guerra. Nessa carta dirigida à ONU, o general Burhan acusava Perthes de ter "ocultado" em seus relatórios a situação explosiva em Cartum antes do início das hostilidades.
Sem essas "mentiras", o general "Daglo não teria lançado suas operações militares", afirmou.
Os confrontos começaram no dia em que foi marcada uma reunião entre os dois generais rivais para negociar a integração das Forças de Apoio Rápido (FAR) paramilitares ao Exército regular, como a ONU vinha exigindo há semanas.
Embora muitos observadores tenham previsto um fracasso para a reunião, Perthes expressou "otimismo". Após a eclosão da guerra, ele reconheceu que foi pego de surpresa.
No terreno, os confrontos continuam nesta sexta-feira entre militares e paramilitares nas imediações do maior complexo militar do Sudão, a fábrica de armas Yarmouk, em Cartum, disseram testemunhas à AFP.
Na madrugada de quarta para quinta-feira, testemunhas relataram um grande estrondo e um incêndio, após a explosão dos depósitos da instalação petrolífera de Al-Shajara, perto de Yarmouk.
Os combates duram mais de 48 horas, segundo testemunhas.
As colunas de fumaça na capital são visíveis a mais de 10 km. Os bairros do leste foram bombardeados nesta sexta-feira, segundo moradores.