"Acabei de olhar meus netos. Primeiro, eles estão vivos, estão muito acabadinhos, mas sei que estão em boas mãos", disse Fidencio Valencia, um indígena huitoto de 47 anos, a repórteres do lado de fora de um hospital militar na capital.
Os irmãos da comunidade huitoto - Lesly, 13, Soleiny, nove, Tien Noriel, quatro, e Cristin, um - foram os únicos sobreviventes de um acidente de avião ocorrido em 1º de maio, aparentemente por uma falha mecânica. Todos os adultos morreram nesse acidente: a mãe das crianças, o piloto e uma liderança indígena.
"Eles estão felizes de ver a família (...) têm todos os sentidos completos", acrescentou o avô.
"Temos de deixá-los quietinhos", enquanto se recuperam, pediu.
A operação de resgate se estendeu até a madrugada deste sábado. As crianças foram levadas de helicóptero para a cidade mais próxima de San José del Guaviare e depois a Força Aérea levou-as para Bogotá, onde estão recebendo atendimento médico.
"Eles são filhos da floresta" e sabem como sobreviver na selva, elogiou Valência.
Em entrevistas à AFP, os avós dos menores disseram que a mais velha "é muito inteligente", "forte" e de natureza "guerreira", qualidades que lhe permitiram manter os demais a salvo.
- 'Milagre' -
O presidente colombiano, Gustavo Petro, anunciou o resgate e celebrou este "dia mágico", no qual também se firmou uma trégua de seis meses com guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN)
"Estavam sozinhos. Eles conseguiram por conta própria. Um exemplo de sobrevivência total que ficará na história", acrescentou o presidente.
O militar encarregado do resgate, general Pedro Sánchez, contou que foram os indígenas que descobriram o paradeiro dos menores.
"Encontramos as crianças: milagre, milagre, milagre!" foi a mensagem que recebeu, segundo contou à imprensa.
Mais de 100 soldados e indígenas da região, com apoio de cães farejadores, seguiam a pista dos menores enquanto eles caminhavam pela floresta entre os departamentos de Guaviare e Caquetá, no sul da Colômbia, onde aconteceu o acidente aéreo.
"Foi uma busca bastante difícil. Esta é uma selva tropical, muito densa (...) Andamos com chuva, tempestades, muitas situações difíceis, mas com toda a esperança e fé espiritual de poder encontrá-los", disse à AFP Luis Acosta, um dos guardas indígenas que participaram das operações de busca.
A notícia das crianças perdidos rodou pelo mundo, com vídeos e fotografias do Exército sobre o dia a dia das operações de busca, nas quais foram encontrados abrigos improvisados com folhas e galhos, tesouras, laços de cabelo, sapatos, roupas, uma mamadeira, frutas mordidas e pegadas.
"Em uma operação inédita na história do nosso país (...) conseguiu-se algo que parecia impossível", celebrou o comandante das Forças Armadas, general Helder Giraldo, em uma mensagem veiculada nas redes sociais.
E acrescentou: "Para conseguir localizá-los, nossos soldados e indígenas percorreram aproximadamente 2.656 quilômetros", tornando "possível o impossível possível". Isso é duas vezes a distância entre Bogotá e Quito, a capital do Equador.
Nas últimas semanas, o general Pedro Sánchez insistiu em que as crianças estavam vivas e perto dos soldados, embora tenha admitido que sua jornada era "inacreditável".
Finalmente, foram encontrados a apenas cinco quilômetros do local da queda do avião.
- Sabedoria indígena -
Para Petro, "foi a sabedoria das famílias indígenas, de viver na selva, que salvaram eles".
Nessa região de difícil acesso por rio e sem estradas, os moradores costumam viajar em voos privados. Segundo a Organização Indígena da Colômbia (ONIC), os huitotos, oriundos da região, vivem em "harmonia" com as condições hostis da Amazônia e mantêm tradições como a caça, a pesca e a coleta de frutos silvestres.
"As forças militares me passavam mensagens sobre o encontro de pegadas que comprovavam que eles estavam vivos. Eu pensei que eles estavam com uma comunidade indígena. Nesta região, ainda existem as últimas tribos nômades", afirmou o presidente.
Agora "é preciso verificar o estado mental deles. Eles ficaram juntos com uma criança de colo", acrescentou Petro.
Os menores embarcaram no pequeno avião junto com a mãe em 1º de maio para fugir dos dissidentes do acordo de paz entre as Farc e o governo, que recrutam e aterrorizam os habitantes da região, explicou o militar encarregado das buscas.
Após 17 dias de desaparecimento, Petro chegou a anunciar que as crianças haviam sido encontradas com vida, mas voltou atrás um dia depois e pediu desculpas pela falsa informação.
Wilson, um cão farejador que se perdeu nas operações de busca, permanece desaparecido. O Exército anunciou que continua a busca pelo animal.
"A busca não acabou. Nosso princípio: não deixamos ninguém para trás", disse a instituição neste sábado, em sua conta no Twitter.
"Os soldados continuam a operação para encontrar Wilson", acrescentou o tuíte, acompanhado de fotos do pastor belga malinois, de seis anos.
Wilson foi fundamental nas buscas, ao encontrar a mamadeira da bebê Cristín no meio da vegetação.