Ex-funcionário do alto escalão da ONU, Mulet lidera as pesquisas de intenção de voto, juntamente com a ex-primeira-dama social-democrata Sandra Torres e a conservadora Zury Ríos, filha do ex-ditador Efraín Ríos Montt (1982-1983).
"Vamos caminhando pouco a pouco para um modelo autoritário. Não digo uma ditadura por enquanto, mas autoritário, sim, no estilo da Nicarágua, por exemplo", disse Mulet, advogado de 72 anos.
"A perseguição aos meios de comunicação, a jornalistas, operadores da justiça, políticos [...] são elementos preocupantes", acrescentou.
Recentemente, vários ex-promotores que conduziram investigações anticorrupção e operadores da justiça têm sido detidos ou exilados, acusados, em sua maioria, de suposto abuso de autoridade.
Muitos trabalharam na comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), entidade das Nações Unidas que operou entre 2007 e 2019, e ajudou a revelar várias fraudes, entre elas a que levou à renúncia, em 2015, do então presidente Otto Pérez (2012-2015).
Além disso, José Rubén Zamora, proprietário de um jornal crítico ao governo (que parou de circular), enfrenta um julgamento polêmico em que pode pegar 40 anos de prisão por suspeita de lavagem de dinheiro.
As ações têm sido impulsionadas pela procuradora-geral, Consuelo Porras, sancionada em 2021 pelos Estados Unidos, que a consideram um personagem "corrupto", mas que conta com o apoio do presidente guatemalteco, Alejandro Giammattei.
Mulet iniciou sua carreira política nos anos 1980 como deputado. Em 1992, foi presidente do Congresso. Ele também foi jornalista e embaixador nos Estados Unidos e na União Europeia.
Na ONU, foi chefe de gabinete do então secretário-geral Ban Ki-moon (2015-2016) e vice-secretário-geral de Operações de Manutenção da Paz (2007-2010 e 2011-2015). Também dirigiu a Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH 2006-2007, 2010-2011).
- 'Quatro anos perdidos' -
Mulet evitou responder se removeria a procuradora-geral caso fosse eleito. "Será um rio e uma ponte que vamos atravessar quando tivermos que fazê-lo", respondeu.
No entanto, afirmou que a Guatemala atravessa "uma situação muito grave em todos os níveis" por causa da corrupção e lamentou que as instituições públicas estejam "contaminadas".
Ademais, prometeu começar uma "limpeza" escalonada e buscar apoio de agências dos Estados Unidos e da União Europeia para ir atrás do "rastro do dinheiro".
"Se a cabeça está corrupta ou apodrecida, os demais se permitem cometer qualquer coisa", acrescentou o candidato, que reprova a administração do presidente Giammattei (direita), que deve entregar o cargo ao vencedor das eleições em 14 de janeiro.
"Realmente serão quatro anos perdidos para o desenvolvimento do país e também um retrocesso muito importante em todos os aspectos", afirmou.
- Sem imitar Bukele -
Torres e Ríos propõem imitar a "guerra" contra as gangues do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, que elevou os índices de segurança no país vizinho, mas Mulet afirmou que não há condições de reproduzi-la na Guatemala devido à maior extensão territorial do país, entre outros fatores.
El Salvador "é um território muito pequeno (21.041 km²), com alta densidade populacional e não se pode imitar o que se faz em um país em outro. São circunstâncias diferentes, momentos históricos diferentes, situações geográficas diferentes", declarou.
Bukele "resolveu esse problema de alguma maneira, mas está criando outros problemas no nível da desinstitucionalização do país, de retrocesso também em aspectos puramente democráticos", acrescentou Mulet, que aposta no controle das prisões e de pontos críticos onde a violência está concentrada.
Ele tampouco é favorável a reintroduzir a pena de morte, como defende Ríos, ao afirmar que a medida não é dissuasiva para conter o crime.
No ano passado, a Guatemala registrou 4.274 homicídios, metade deles atribuída ao narcotráfico e a gangues que atuam em assassinatos por encomenda e extorsões.
- Laços com Taiwan mantidos -
Mulet, que disputa a Presidência pela segunda vez, se declarou favorável a manter as relações com Taiwan por "não ver uma razão objetiva" para se voltar para a China, apesar de todos os outros países centro-americanos, com a exceção de Belize, terem se vinculado a Pequim.
Ele disse que prefere evitar "um atrito com os Estados Unidos, nosso maior parceiro geopolítico e econômico" e afirmou que pedirá a Washington milhares de vistos de trabalho para os guatemaltecos como forma de conter a migração irregular.
"Há mais de 10 milhões de vagas [de emprego] nos Estados Unidos, que realmente precisam de mão de obra, e a Guatemala pode proporcioná-la", assegurou.
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