O caixão do empresário e ex-chefe de Governo, adornado com flores brancas, vermelhas e verdes, as cores da bandeira italiana, chegou às 13h GMT (10h, no horário de Brasília) à catedral de Milão diante de milhares de pessoas e sob os cânticos dos torcedores do Milan, clube que dirigiu por 31 anos.
Logo fez sua entrada na igreja, sob aplausos dos presentes, incluindo a primeira-ministra Giorgia Meloni, assim como muitas autoridades.
"Quando um homem é político, busca vencer. Tem partidários e opositores. Alguns o colocam no topo, outros não o suportam", disse em sua homilia o arcepisbo de Milão, Mario Delpini.
Uma multidão de admiradores de Berlusconi, emocionados e chorosos, acompanhou a cerimônia em frente à catedral em dois telões. Sob um sol escaldante, muitos gritavam "Silvio", "Presidente Berlusconi" e "Obrigado, (você) é único".
No final da cerimônia, seus cinco filhos nascidos de duas esposas diferentes saíram e saudaram a multidão, que aplaudiu quando o carro fúnebre deixou o local.
"Silvio Berlusconi é o meu primeiro e único amor político. É um dia muito triste para a Itália", lamentou Luigi Vecchione, funcionário de uma empresa têxtil, de 48 anos, procedente de Borgosesia, na região do Piemonte, vizinha de Milão.
Gianfranco Diletta, de 65 anos, gerente aposentado e fotógrafo apaixonado pelo Milan, apresentou-se, no entanto, como um opositor.
"Nunca votei no Berlusconi, que encarnou o populismo moderno na Itália durante os anos 1990 e foi seguidor de uma política econômica ultraliberal com privatizações a qualquer custo. E até o final, foi amigo de Putin. Foi um erro estratégico que pôs a segurança nacional da Itália em perigo", disse.
- Orban e o Emir do Catar -
Em Milão, assim como em toda Itália, as bandeiras estão hasteadas a meio mastro.
Além de Meloni e seus dois vice-primeiro-ministros, Matteo Salvini e Antonio Tajani, número dois do partido de Berlusconi (Forza Italia), também estiveram presentes o presidente da República, Sergio Mattarella, e o ex-chefe de Governo Mario Draghi, assim como representantes da oposição.
Entre os poucos líderes estrangeiros estavam o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad Al Thani; o presidente do Iraque, Abdel Latid Rachid; e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban.
O funeral de Estado, previsto pelo protocolo, foi acompanhado por um dia de luto nacional, algo inédito para um ex-primeiro-ministro - e que não agrada a todos os italianos.
"O funeral de Estado está previsto e é justo, mas o luto nacional para uma pessoa divisiva como Silvio Berlusconi me parece uma decisão inoportuna", disse Rosy Bindi, ex-ministra de esquerda no segundo governo de Romano Prodi (2006-2008), em entrevista à rádio pública.
- "Falta de respeito" -
Andrea Crisanti, senador do Partido Democrático (PD, centro-esquerda), também se opôs ao luto nacional.
"Não tinha respeito pelo Estado quando fraudou as autoridades fiscais", denunciou, recordando a condenação final do "Cavaliere", em 2013, no caso de fraude fiscal relacionado ao seu império midiático, Mediaset.
A trajetória de Berlusconi, que sempre conseguiu ressuscitar politicamente, confunde-se com a história da Itália nos últimos 30 anos.
Também era um dos homens mais ricos do país, com uma fortuna avaliada pela Forbes em 6,4 bilhões de euros (aproximadamente R$ 36 bilhões, na cotação da época) no início de abril.
Amado ou odiado, esse amante de mulheres muitos mais jovens que ele, incluindo prostitutas, sempre esteve na mira da opinião pública por causa de suas polêmicas festas.
No exterior, era conhecido, sobretudo, pelos escândalos, gafes, processos judiciais e os golpes de efeito diplomáticos.
Seu falecimento provocou reações em todo o mundo, da Casa Branca ao Kremlin, de onde o presidente russo, Vladimir Putin, descreveu-o como "um verdadeiro amigo".
Berlusconi também deixa sua marca no esporte, ao vencer 29 títulos durante os 31 anos em que presidiu o Milan.