Há duas semanas, Wilson rompeu a coleira que o ligava a seu tutor e sumiu na Amazônia colombiana enquanto farejava o rastro de quatro crianças perdidas que tinham sobrevivido a um acidente aéreo. Passados os dias, as crianças foram encontradas, mas o cão segue desaparecido.
Enquanto 70 militares apoiados por duas cadelas no cio tentam localizar o pastor-belga-malinois macho na imensidão da selva do departamento de Caquetá (sul), seus treinadores em Bogotá esperam que ele esteja usando "o seu instinto de caça" para sobreviver.
"É um cão muito forte, muito bem formado, temos a confiança de que ainda está vivo", disse à AFP o soldado Elvis Porras, instrutor canino da Escola de Engenheiros Militares, onde Wilson foi treinado.
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Durante sua recuperação no Hospital Militar de Bogotá, as irmãs mais velhas fizeram um desenho no qual se vê um cão em meio às árvores e ao lado de um rio, com o nome Wilson escrito.
Antes de se perder, o cão "orientou a tropa até pontos cruciais para o rastreamento e para decifrar o caminho que as crianças estavam fazendo", detalha Edgar Fontecha, outro instrutor canino da escola militar.
O Exército e familiares dos indígenas suspeitam que Wilson foi o primeiro integrante da equipe de busca a ter contato com as crianças.
Para encontrá-lo, "enviamos duas cadelas no cio . Wilson é castrado, contudo, esperamos que ele desperte os seus instintos e vá ao encontro das fêmeas", explica o general Pedro Sánchez, que comandou a operação de resgate dos menores e agora espera fazer o mesmo pelo cão.
#VamosPorWilson, #FaltaUno, #WilsonHeroeNacional são algumas hashtags em espanhol que os usuários espalharam pelas redes sociais em clamor pelo retorno do pastor-belga.
Ninhada W
Outro pastor belga "faz rapel" das alturas preso a uma cadeirinha na Escola de Engenheiros Militares. Em alguns meses, o animal repetirá esse mesmo exercício de um helicóptero.
Wilson, o mais forte da "Ninhada W" - chamada assim porque todos os cães foram batizados com nomes iniciados por essa letra -, foi treinado durante 14 meses nesta escola militar situada na região sudeste da capital.
"Era o cão que buscávamos: forte, destemido e bastante curioso", recorda Fontecha.
Quase 60 cães são treinados nesse centro militar para realizar atividades como detectar explosivos e drogas, fazer resgates sob os escombros de edifícios colapsados e rastrear pessoas em missões humanitárias, a especialidade de Wilson.
Este tipo de cão costuma ser treinado em binômios, com um único tutor militar que o acompanha ao longo de toda a sua vida e nas diferentes operações de que participa. Cristian David Lara, o responsável por Wilson, permanece na floresta para tentar encontrar seu paradeiro.
Segundo Fontecha, "dizem que o cão rompeu a coleira" que o prendia a Lara e "saiu em disparada para fazer sua missão, seguir o rastro" dos menores, até que se perdeu.
Assim, "o afã de acertar, de encontrar e de buscar seu objetivo" acabou se tornando um fardo pesado para o animal, especula Porras.
Por outro lado, o general Sánchez afirma que "não é habitual" ver este tipo de comportamento em cães treinados pelo Exército.
Os militares têm confiança de que, assim como fizeram as crianças, Wilson conseguirá evitar cobras, suçuaranas, onças e outros predadores que espreitam na mata.
"Me enche de tristeza. Saber que é um filho da nossa casa e que foi o único que não pôde sair da área depois de um resultado tão bom", lamenta o soldado Porras.