Entre os detidos está o capitão do barco antigo e superlotado, que virou antes de naufragar.
Segundo fontes portuárias, o pesqueiro zarpou do Egito sem passageiros rumo a Tubruk, cidade do leste da Líbia, onde os migrantes embarcaram rumo à Itália.
As detenções ocorreram em Kalamata, cidade portuária da península do Peloponeso para onde foram levados os sobreviventes do naufrágio.
Segundo a Guarda Costeira, até agora, 78 corpos foram encontrados nas águas da península do Peloponeso, no sudoeste da Grécia.
Mas a Organização Internacional para as Migrações (OIM) disse "temer que centenas de outras pessoas" tenham morrido no incidente, "uma das tragédias mais devastadoras no Mediterrâneo em uma década".
O porta-voz do governo grego, Ilias Siakantaris, disse na quarta-feira que, de acordo com informações não confirmadas, havia cerca de 750 pessoas a bordo do barco pesqueiro.
Um dia depois da catástrofe, dois navios-patrulha, três helicópteros e outras nove embarcações vasculhavam o setor, uma das áreas mais profundas do Mediterrâneo.
O Supremo Tribunal grego ordenou a abertura de uma investigação judicial para apurar as razões do ocorrido. O governo declarou luto de três dias.
Cerca de 5.000 pessoas, segundo a polícia, manifestaram-se em Atenas e Tessalônica, segunda cidade do país, em "solidariedade aos refugiados" e para denunciar o endurecimento da política migratória da União Europeia (UE). "O governo e a UE matam", dizia um cartaz exibido no protesto.
- Superlotado -
As autoridades anunciaram o resgate de 104 pessoas com vida, mas temem que centenas estejam desaparecidas, com base nos depoimentos dos sobreviventes e no fato de que não há mulheres e crianças entre eles.
"São todos homens", disse uma fonte da Guarda Costeira.
"Não sabemos o que há no porão, (...) mas sabemos que muitos traficantes trancam as pessoas para manter o controle", declarou Siakantaris, porta-voz do governo, ao canal estatal ERT.
Um sobrevivente disse aos médicos do hospital no porto de Kalamata que viu centenas de crianças no porão do navio.
"O pesqueiro tinha de 25 a 30 metros de comprimento. O convés estava lotado de pessoas e presumimos que o interior também estivesse cheio", declarou o porta-voz da Guarda Costeira, Nikolaos Alexiou, ao canal ERT.
A Frontex (Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira) detectou a presença da embarcação na terça-feira, mas os passageiros "recusaram a ajuda", de acordo com um comunicado divulgado pelas autoridades portuárias gregas na quarta-feira.
Estas também informaram que, no momento do naufrágio, ninguém a bordo usava colete salva-vidas.
O chefe da Frontex, Hans Leijtens, viajou para a Grécia nesta quinta-feira "para entender melhor o que ocorreu desde que a Frontex interveio".
"Também estou aqui para demonstrar minha solidariedade e ajudar os colegas gregos, que estão fazendo tudo o possível para salvar vidas", afirmou.
Os sobreviventes são, em sua maioria, da Síria (47), Egito (43) e Paquistão (12), informou a Guarda Costeira.
- "Em estado de choque" -
Erasmia Roumana, funcionária do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), descreveu o cenário no porto de Kalamata (sudoeste), para onde os sobreviventes foram transferidos, como "realmente assustador", segundo declarações à AFP.
Os sobreviventes estão "em uma situação psicológica muito ruim", acrescentou. "Muitos estão em estado de choque, estão abatidos".
O papa Francisco, muito preocupado com o tema migratório, afirmou que está "profundamente consternado" com o naufrágio, anunciou o Vaticano nesta quinta-feira.
"O papa Francisco envia suas orações sinceras pelos muitos migrantes que morreram, seus parentes e todos os que ficaram traumatizados com esta tragédia", destacou um telegrama assinado pelo número 2 da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin.
Uma imagem de baixa qualidade divulgada pela Guarda Costeira mostra um barco de pesca azul em péssimas condições com pessoas aglomeradas de um extremo a outro. Havia gente inclusive no teto da cabine.
O motor da embarcação apresentou problemas na noite de terça-feira e o pesqueiro naufragou a 87 km de Pilos, no Mar Jônico, afirmou Siakantaris, segundo quem o barco levou de 10 a 15 minutos para afundar.
Entre os sobreviventes, um jovem começou a chorar antes de se soltar. "'Preciso da minha mãe' (...) - essa voz está nos meus ouvidos e continuará para sempre", declarou Ekaterini Tsata, enfermeira da Cruz Vermelha em Kalamata.
A maior tragédia com migrantes na Grécia aconteceu em 3 de junho de 2016, quando 320 pessoas morreram ou foram declaradas desaparecidas após um naufrágio, de acordo com registros da AFP.
KALAMATA