Ao final de dois dias de debates na presença de quase 40 chefes de Estado e de Governo, incluindo o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o francês Emmanuel Macron celebrou um "consenso completo" para tornar o sistema financeiro mundial "mais eficaz e mais equitativo".
Além do discurso, no entanto, os poucos resultados concretos do evento organizado na antiga sede da Bolsa de Paris, o Palácio de Brongniart, vieram, sobretudo, de grupos ou coalizão de países.
Estados Unidos, Reino Unido, França, Espanha e Barbados, entre outras nações, estabeleceram um acordo com o Banco Mundial (BM) e outros organismos para criar um sistema que suspende o pagamento da dívida, em caso de catástrofes naturais.
Esta era uma das reivindicações da primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, que, em uma entrevista à AFP na quinta-feira (22), elogiou que todos aceitassem o princípio e pediu um "trabalho conjunto, porque existe apenas este planeta para viver".
Entre os avanços citados por Macron, está um acordo de vários países credores para reestruturar a dívida da Zâmbia, ou o objetivo alcançado de redistribuir 100 bilhões de dólares de Direitos Especiais de Saque aos países pobres, algo prometido em 2021.
E ele destacou que a promessa anunciada em 2009 de liberar outros 100 bilhões de dólares por ano a partir de 2020 para ajudar os países pobres a enfrentar a mudança climática será cumprida este ano, também com atraso.
A rede de ONGs Climate Action Network (CAN) criticou, no entanto, a reunião de cúpula por "fazer algo novo de algo velho" e lamentou a ideia de uma possível suspensão de pagamentos, "em vez do cancelamento total da dívida".
- Lula e a "piada" do clima -
A reunião aconteceu sob pressão da sociedade civil, em particular de jovens ativistas ecologistas, incluindo a sueca Greta Thunberg, que protestaram nesta sexta-feira na Praça da República de Paris para exigir "finanças verdes".
Anne Cormille, de 22 anos, lamentou que o encontro de Paris "nem sequer tenha falado sobre interromper o financiamento dos combustíveis fósseis", apesar de ser uma fonte dos problemas climáticos.
"A questão climática virou uma piada", disse o presidente Lula durante a reunião, ao denunciar a falta de uma "governança mundial" para cumprir os acordos sobre o clima.
Os países do Sul defendem a necessidade de modernizar o papel das instituições multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), para que sejam plenamente orientadas para a luta contra a mudança climática, o combate contra a pobreza, o desenvolvimento humano e a proteção da biodiversidade.
A confiança é reduzida entre os países mais vulneráveis, reunidos no grupo V20 (composto por 58 países), após uma série de promessas não cumpridas por parte das nações mais desenvolvidas.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, disse à AFP que sua proposta de "trocar a dívida por ação climática" foi acolhida com "timidez", mas que buscará reapresentá-la na reunião de líderes europeus e latino-americanos prevista em julho, em Bruxelas.
Macron não citou, por sua vez, o imposto sobre as transações financeiras em sua lista de avanços registrados no encontro de cúpula, nem as tarifas sobre as emissões de carbono do transporte marítimo que a França pretendia estimular.
Uma coalizão de 22 países, entre eles Dinamarca, Vietnã e Nova Zelândia, assim como a Comissão Europeia, apoia esta última iniciativa, segundo a presidência francesa.
A discussão das propostas continuará nos próximos meses com um "mapa de rota" que inclui as reuniões do G20 na Índia em setembro e no Brasil em 2024, assim como a COP28 de Dubai, entre outros.
- Tensão com o Mercosul -
O evento em Paris também foi marcado por vários encontros bilaterais.
Lula teve um almoço de trabalho nesta sexta-feira com Macron no Palácio do Eliseu para conversar sobre a ratificação do acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai).
Em um fórum de líderes antes do fim da reunião de cúpula de Paris, Lula elevou o tom diante de Macron, ao criticar as exigências ambientais adicionais apresentadas pela UE ao Mercosul em março.
"Não é possível ter uma associação estratégica e ter uma carta adicional, ameaçando um parceiro estratégico", disse Lula.
O presidente brasileiro afirmou que essas exigências impedem a ratificação, que a Comissão Europeia deseja concretizar até o fim do ano. Macron é pressionado pelo setor agropecuário francês para vetar a aliança com o Mercosul.
PARIS