"Graças ao poder que a arte tem", as imagens buscam "viabilizar o trabalho dessas mulheres para que eventualmente consigamos que seu empreendimento decole", explica à AFP a fotógrafa peruana Leslie Osterling, antes da inauguração da mostra, nesta quarta-feira (28), e que ficará aberta até 19 de julho na embaixada do Peru em Londres.
Em seu pequeno ateliê aos pés da montanha Pinkuylluna, nos vizinhos vestígios incas ou em suas humildes casas pintadas com cores vivas, as sete integrantes do projeto tiveram suas vidas e trabalho documentados durante uma semana e meia por Osterling.
Maritza, Luzmarina, Claudia, Juanabel, Francisca, Isabel e Flor moram em uma aldeia de apenas 20 casas perto de Ollaytantambo, povoado conhecido por estar localizado no caminho para Machu Picchu.
A maioria não terminou a escola, muitas não foram sequer a Cusco, cidade a uma hora e meia de carro.
Com maridos ausentes ou desempregados, até agora sobreviviam vendendo seus poucos produtos agrícolas nos mercados locais, explica Kiara Kulisic, de 29 anos, empresária de Lima que criou o projeto em maio de 2022.
"Infelizmente, essas mulheres sofrem com a interseção de diversos fatores de opressão - a discriminação, o machismo, o racismo, o classismo - por serem mulheres andinas são as últimas que o Estado leva em conta", afirma.
Agora, elas "utilizam seus cabelos como matéria-prima renovável, sua habilidade histórica de tecer e sua vontade de seguir adiante para dar aos filhos um futuro melhor", acrescenta Osterling.
- "De forma ética" -
Afetada por uma alopecia, que a fez perder 70% de seus cabelos, Kulisic decidiu aliar sua capacidade empreendedora ao seu conhecimento sobre cabelos para lançar essa aventura empresarial.
"O cabelo dessas mulheres é superabundante, longo e virgem", afirma, explicando que já conhecia a habilidade delas como tecelãs por ter colaborado com elas em 2018 em um projeto têxtil de uma ONG que faliu com a pandemia.
A americana Gretchen Evans que, segundo Kulisic, colaborou em filmes da Marvel e com a série "Stranger Things" da Netflix, ensinou-as a confeccionar próteses capilares "de qualidade" como as que são vendidas para Hollywood.
"Hoje em dia, as perucas são feitas na China, na Índia, em Bangladesh, mas há muita exploração no meio disso. O objetivo desse projeto é mostrar ao mundo que pode ser feito de forma ética", afirma Osterling.
Há um ano, as mulheres praticam com seus próprios cabelos, que a maioria aceitou que fossem cortados.
"As mulheres da cordilheira deixam o cabelo longo durante a vida toda, ou seja, ter a coragem de cortá-lo, quando isso faz parte da sua identidade, foi algo difícil para elas", lembra a fotógrafa, mostrando imagens de longuíssimos cabelos pretos azeviche.
Uma vez cortados, Kulisic os tinge para oferecer uma grande variedade de cores.
Depois, com a ajuda de um pequeno gancho, as mulheres amarram os cabelos, um a um, em malhas finíssimas, reproduzindo as diferentes direções em que o cabelo cresce em cada área do crânio, para dar naturalidade e a possibilidade de penteá-lo como se fosse uma cabeleira real.
Para fazer uma peruca completa, elas levam de três a quatro semanas.
E, finalmente, estão prontas para iniciar a comercialização, afirma a empresária, que já aceita encomendas de próteses capilares personalizadas, mas ainda não lançou seu site.
Quando os lucros começarem a chegar, Kulisic gostaria de "abrir mais centros pelo país, em lugares onde as mulheres sofrem com a pobreza e o abuso" para ajudá-las a serem independentes economicamente.
Em Huayronccoyoc Pampa, já "aprenderam o valor" de seu cabelo excepcional, afirma Osterling, assegurando que "há aproveitadores oferecendo dinheiro pelo cabelo e algumas, por necessidade, o vendiam por preços muito baixos.
"E também o valor agregado de sua manufatura", destaca a fotógrafa, que após estrear a exposição em Londres, quer levá-la a Cusco.