Os instrumentos que fizeram essas medições podem fornecer um alerta antecipado de surtos de calor extremo, embora não sejam tão precisos quanto os relatórios mensais e anuais das principais agências, dizem os especialistas.
- Quem produz os dados? -
A Universidade de Maine, nos Estados Unidos, criou uma página online chamada Climate Reanalyzer, que mostra as curvas médias da temperatura global para cada dia desde 1979.
Na segunda-feira, 3 de julho, essa curva atingiu o pico de 17,01 ºC. Esse recorde foi superado na terça-feira, com 17,18°C, e novamente na quinta-feira, com 17,23°C.
O observatório europeu de mudanças climáticas Copernicus, que possui uma ferramenta semelhante, confirmou posteriormente os recordes de segunda e terça-feira, embora com valores ligeiramente diferentes: 16,88°C e 17,03°C, respectivamente.
- Como chegam aos números? -
Essas estimativas são produzidas por meio de uma combinação de medições de temperatura reais, desde estações terrestres, satélites e mais, com modelos de informática.
As duas ferramentas são conceitualmente semelhantes, mas diferem em suas fontes e métodos exatos, o que leva a resultados ligeiramente diferentes.
A Universidade de Maine se baseia nos dados de saída de modelos públicos produzidos pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) para fazer previsões.
Mas a NOAA afirma que, embora registre recordes de temperaturas superficiais quentes em muitos lugares do mundo, não poderia "validar a metodologia ou a conclusão da análise da Universidade de Maine".
A NOAA é responsável por seus próprios relatórios de temperatura mensais e anuais.
O fato de ambos os resultados convergirem é reconfortante, disse à AFP Zeke Hausfather, climatologista da organização independente de dados climáticos Berkeley Earth.
A ferramenta europeia é considerada "muito avançada" pela comunidade em geral, acrescentou.
- Quais são as limitações? -
"São estimativas, registros não oficiais", disse à AFP o climatologista Sean Birkel, da Universidade de Maine, que desenvolveu o Climate Reanalyzer.
"A maior ênfase deve ser colocada em uma escala de tempo anual e mensal", explicou, acrescentando que esses relatórios estão sujeitos a maior controle e verificação do que é possível para registros diários, que são baseados em informações quase em tempo real.
Na quinta-feira, a Copernicus publicou separadamente sua análise do mês passado, anunciando que foi o junho mais quente já registrado. Um relatório mensal semelhante da NOAA agora é esperado na próxima semana.
Esses relatórios são baseados "exclusivamente em observações" de terra e do mar e coletam muito mais pontos de dados, explicou Hausfather.
Em geral, os especialistas em clima preferem se concentrar nas tendências e mudanças de longo prazo para eliminar as variações simplesmente relacionadas ao clima.
Além disso, o conceito de temperatura média global é um pouco abstrato e não necessariamente significativo para o público em geral.
"Ninguém vive na média global", argumentou Hausfather.
- Qual é o valor das estimativas de registros diários? -
Apesar dessas limitações, o valor das estimativas de nível diário é que "podemos começar a identificar eventos extremos" que podem ter um grande impacto no clima do planeta, disse Birkel.
Embora a temperatura na escala diária se refira ao tempo, e não ao clima, adicionar dados de 40 anos fornece um importante contexto climático, afirmou o especialista.
"Esses registros parciais fornecem mais evidências de mudanças nos padrões climáticos globais devido às mudanças climáticas e à evolução do episódio El Niño", disse Omar Baddour, chefe de monitoramento climático da Organização Meteorológica Mundial.
"Acho que isso é um sinal de que estamos entrando em uma era muito quente. Junho foi o junho mais quente já registrado por uma margem muito grande", afirmou Hausfather.
"Neste ponto, parece cada vez mais provável que 2023 como um todo seja o ano mais quente desde que os registros começaram, em meados do século XIX", disse ele.
WASHINGTON