O grupo de trabalho entrega suas conclusões na terça-feira (11) e seus integrantes, basicamente geólogos, acreditam que o Antropoceno já começou, mas agora precisam convencer seus pares.
Na opinião do grupo, a atividade humana levou o planeta a abandonar a estabilidade da época do Holoceno, iniciada há 11.700 anos, quando terminou a última era glacial.
A temperatura do mundo aumenta e seus sistemas de suporte vital estão falhando.
- A Grande Aceleração -
O conceito de "época dos humanos" foi proposto pela primeira vez em 2002 pelo vencedor do Prêmio Nobel de Química Paul Crutzen, que calculou que ocorreu em meados do século XX.
Coincide com o aumento das concentrações de gases de efeito estufa, poluição por microplásticos, resíduos radioativos de testes de bombas atômicas e uma dúzia de outros marcadores da crescente influência de nossa espécie no planeta.
Os cientistas chamam isso de Grande Aceleração.
Esse fenômeno, por sua vez, causa sedimentos, detectáveis no fundo de um lago, recife de coral, núcleo de gelo ou de qualquer outro depósito geológico.
Os especialistas selecionaram nove locais, três deles estariam localizados na China, Canadá e Japão. O local específico deve ser anunciado na terça-feira.
O fruto do longo trabalho do grupo de cientistas deve então ser validado por um grupo de cientistas da Comissão Internacional de Estratigrafia (ICS) e, finalmente, pela União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS).
As chances disso acontecer são mínimas, segundo quase todos os envolvidos.
Os especialistas discordam se a pegada geológica da humanidade justifica uma nova entrada na Carta Cronoestratigráfica Internacional, a linha do tempo oficial do planeta, que remonta a 4,5 bilhões de anos.
Ao mesmo tempo, confirmar o Antropoceno nos obrigaria a refletir sobre o impacto da humanidade.
Crutzen, que ganhou um Nobel por identificar substâncias químicas criadas por humanos que destroem a camada protetora de ozônio, esperava que o conceito e a realidade do Antropoceno fossem um alerta sobre os desafios futuros.
"Isso pode significar uma mudança de paradigma no pensamento científico", disse ele em um simpósio em 2011.
"É o reconhecimento de que temos pontos de inflexão, que o Holoceno é o único estado capaz de nos apoiar", disse à AFP Johan Rockstrom, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisa do Impacto Climático.
Outros cientistas, no entanto, não estão convencidos.
"As condições que causaram a glaciação (uma dúzia de mini-eras glaciais nos últimos milhões de anos) não mudaram, então podemos esperar que o Holoceno seja apenas mais uma etapa interglacial", disse Phil Gibbard, secretário da UCI.
O planeta, em sua opinião, poderia continuar nesse padrão por mais 50 milhões de anos.
Quanto ao Antropoceno, Gibbard sugeriu chamá-lo de um "evento" que abrange milênios de alterações humanas no meio ambiente.
Na Geologia, observou ele, um evento pode ser qualquer coisa, desde uma única gota de chuva que perfura um pedaço de argila até o Grande Evento de Oxidação que transformou a atmosfera da Terra há cerca de 2,2 bilhões de anos.
Para Jan Zalasiewicz, um geólogo experiente que aceitou o desafio de liderar o Grupo de Trabalho do Antropoceno, isso não é suficiente.
A falta de ratificação formal do conceito, disse ele, deixaria a impressão de que as condições do Holoceno que permitiram o florescimento da civilização humana ainda estão presentes.
"Claramente não estão", disse à AFP.
"Me preocupa que a palavra 'antropoceno' continue significando coisas diferentes para pessoas diferentes. Se isso acontecer, perderá seu sentido e simplesmente desaparecerá", afirmou.