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Estado de Minas MILTON

Lago Crawford: um 'ponto de ouro' do Antropoceno no Canadá


11/07/2023 14:29
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À primeira vista, ele se parece com qualquer outro pequeno lago no Canadá - um dos milhares espalhados por esse enorme país. Mas a visão abaixo da superfície do lago Crawford, nos arredores de Toronto, conta uma história bastante diferente.

Cientistas acreditam que as camadas de sedimento bem preservadas do lago servem como um ponto de referência para um novo capítulo geológico na história do planeta, definido pelas enormes mudanças forjadas pela atividade humana: o Antropoceno.

Por anos, geólogos tentaram encontrar o assim chamado "golden spike" (ponto de ouro em tradução literal) do Antropoceno - o local na Terra com as melhores evidências dessa transformação global.

E o lago Crawford - localizado na província de Ontário, na região da grande Toronto - é esse local, de acordo com a International Comission on Stratigraphy do Grupo de Trabalho do Antropoceno, que revelou sua decisão nesta terça-feira.

Uma lenda local diz que o lago é sem fundo, mas na verdade, é exatamente o oposto - suas profundezas possuem riquezas incomparáveis.

Os sedimentos impecavelmente preservados mostram, melhor do que qualquer outra coisa na Terra, que humanos irrevogavelmente mudaram o planeta em todos os níveis, inclusive sua composição física.

"É muito profundo, mas não é muito grande. Então isso significa que as águas não se misturam até o fundo", explica Francine McCarthy, professora da Brock University, que liderou a pesquisa no lago Crawford.

"E assim os sedimentos que acumulam no lago não são afetados", disse ela à AFP em abril, quando amostras foram coletadas pelo ICS do Grupo de Trabalho do Antropoceno.

- "Impressão digital distinta" -

Por séculos, o lago Crawford vem lentamente absorvendo sinais de mudança. Tudo o que antes flutuava na superfície agora está incorporado de alguma forma aos seus sedimentos.

Os primeiros humanos que deixaram suas marcas no lago foram a tribo dos Iroquois, que construiu casas ao longo da costa. Os sedimentos mostraram então a crescente influência dos colonizadores europeus na paisagem, como árvores que desapareceram e novas espécies que surgiram.

Então, no século XX, cinzas negras pelo uso de carvão e outros combustíveis fósseis assentaram-se no lago, à medida que as cidades se desenvolviam e se tornavam mais industrializadas. Metais pesados, como o cobre e o chumbo, também começaram a aparecer progressivamente nas camadas.

"Nós podemos ver a perturbação local. Ou nós podemos ver os efeitos regionais (como) poluição", diz Paul Hamilton, pesquisador do Museu Canadense da Natureza.

Os sedimentos do lago também conseguem documentar a mudança global, diz ele, como a "acumulação atmosférica de químicos."

Para McCarthy, os outros locais em disputa para ser um "golden spike" do Antropoceno não tiveram uma "impressão digital tão distinta do que cada núcleo e ano parecem".

"Cada ano tem sua própria personalidade, como as pessoas", afirmou.

- "Tudo mudou" -

Extrair amostras do lago Crawford que podem servir como marcadores para um novo período geológico requer habilidade, precisão e velocidade.

Tim Patterson, pesquisador da Universidade de Carleton no Canadá, e sua equipe são especialistas. Para recuperar os sedimentos das profundezas do lago Crawford sem danificá-los, eles preenchem enormes tubos de metal com gelo seco e álcool.

Os tubos - de aproximadamente 2 metros de comprimento e 15 centímetros de largura - são então plugados no lago por 30 minutos, para que os sedimentos possam congelar, formando uma série de linhas distintas para cada ano, como os anéis de uma árvore.

Em abril, o que mais interessou a Patterson foram os traços de plutônio.

O início do Antropoceno foi definido em 1950 "para pegar algo que foi absolutamente único na história do mundo. Foi um teste nuclear no ar", explicou ele.

"Humanos nunca tinham feito isso antes. E isso deixou uma marca, não apenas regionalmente, mas ao redor do mundo".

McCarthy, que trabalha no lago Crawford há quase quatro décadas, disse que 1950 também marca o período em que a humanidade entrou em um aparentemente ciclo sem fim de consumo, produção e poluição.

"Então durante 12.000 anos isso aconteceu da mesma maneira. Então de repente, muito de repente, em questão de poucos anos, tudo mudou", disse ela à AFP.

Mas McCarthy, no entanto, mantém-se esperançosa sobre o futuro.

"Se geólogos, que afinal são as pessoas que encontraram o plutônio e o petróleo nas rochas, aceitaram que há uma mudança fundamental que é devida aos seres humanos, então talvez medidas sejam tomadas", afirmou.


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